Texto de Mavesper Cy Ceridwen
Uma das coisas que mais confundem e intrigam as pessoas quando iniciam um trabalho sério de auto-transformação na wicca é o lidar com a Deusa Negra. As Deusas Negras, que se conectam com as luas escuras sempre tem muitos atributos: são senhoras da morte e da ressurreição, portadoras da foice que ceifa nossas vidas. Também são as senhoras da magia, uma vez que os portais da magia somente são abertos quando passamos a conhecê-las. Por isso mesmo elas são as Iniciadoras: somente depois de conhecê-las é que estaremos aptos a nos iniciar formalmente... São Senhoras dos oráculos e são tecelãs, no sentido de que transformam a vida. Aliás, o caldeirão é um atributo seu, o receptáculo da transformação. Quando lidamos com as Deusas Escuras estamos tratando de uma coisa chamada SOMBRA, ou seja, tudo o que sua personalidade consciente rejeitou para formar o EU que se apresenta ao mundo (que podemos chamar de ego). Mas a personalidade de cada um de nós é formada não só pelo que vem à luz, o ego, mas em grande parte pela sombra. Como em um iceberg, o ego é a pontinha fora da linha da água do grande oceano do inconsciente. Porque é importante sabermos disso? Porque só tendo consciência do que é nossa sombra poderemos conhecer a nós mesmos por inteiro. Sua sombra traz dentro dela tudo o que você rejeitou. Se você é leal, sua sombra é desleal, se você é honesto, sua sombra mente, se você é ordeiro, sua sombra ama a desordem... Mas a sombra tem uma riqueza potencial enorme, porque guarda qualidades que você também não tem. Por exemplo, se você é tímido, sua sombra é arrojada, se você é medroso, sua sombra é valente, se você é rígido, sua sombra é flexivel e adaptável... Por ai creio que já dá para vocês imaginarem como o trabalho com a sombra pode ser importante e rico. Ela pode fornecer a você qualidades que você não tem e que podem te ajudar muito na vida. Já entendemos que a sombra tem riquezas a nos trazer. E como se chega a elas? Qual é o preço a pagar? Sabemos que a sombra é algo tão profundamente rejeitado por nós, quando não nos trabalhamos psicologicamente, que essas riquezas da sombra não estão facilmente disponíveis... Estão profundamente enterradas no inconsciente. E como fazê-las vir à luz? Só há um jeito: encarar sua sombra de frente. Quando as pessoas começam a ver isso, muitas se assustam e nunca mais voltam a um trabalho mágico, muito menos à wicca. Um trabalho de auto-transformação é um trabalho seríssimo. Especialmente para aqueles que creem que são "bons", "guerreiros da luz", "certinhos". Falo isso porque quanto mais uma pessoa vive essas personagens boazinhas, anjinhas, que espalham luz e bondade onde passam, maior é o abismo que separa a sombra do ego. Se você é daquelas pessoas que nunca se permite uma irritação, que nunca xinga, que nunca grita e que jamais perde a paciência, se você é uma pessoa sempre legalzinha, aguentando qualquer coisa que te façam de boca calada ou oferece a outra face, se você aparenta ser sempre zen e que nada te perturba... bem , você é um serio candidato a ser vítima do que se chama em psicologia uma revolta da sombra. Explico: vocês já viram aquele número de malabarismo nos circos em que a pessoa se equilibra em uma tábua solta sobre um cilindro? Quanto maior for a tábua, mais difícil é o equilíbrio. Quanto mais as pernas ficam próximas, mais fácil é... pois é, imaginem que cada perna é ego e sombra e entendam o exemplo... Uma pessoa que dá vazão a sua sombra, que morde quando é cutucada, que xinga, briga, chuta em revolta, que não dá a outra face, que não finge que não está zangada e odeia... essa pessoa é muito mais equilibrada do que as que fingem que nada as afeta ou que sempre passam por cima de tudo, ou pior, que se compadecem de quem as agride... Uma explosão da sombra pode se dar de mil maneiras, desde uma maneira bombástica como o cara bom pai de família e bom marido e trabalhador que um dia pega uma arma , entra numa lanchonete e fuzila todo mundo, até a pessoas que não aguentam mais e um dia mandam o casamento por espaço, os filhos para Marte e vão morar com os índios no Xingu... Conhecer e acatar nossa sombra - nossa porção que odeia, grita, rosna, deseja vingança e ameaça os inimigos - é parte essencial de uma psique saudável e do trabalho mágico, porque é só aceitando nossa condição humana que seremos capazes de conhecer quem realmente somos. Nenhum ser humana é tão evoluído ou perfeito que possa se considerar superior a essas coisas. Ao invés de temê-las e rejeitá-las temos é que aprender a conviver com elas. Uma bruxa sabe que aceitar as manifestações da sombra é o caminho do poder pessoal e do equilíbrio e que não há atalhos que o evitem. Emoções como ira, raiva, ódio, cobiça, gula, luxúria, preguiça, desejo de vingança, são HUMANAS. Nenhum de nós escapa delas, e o resto é só fingimento. Coloquei de propósito palavras que lembram, os 7 pecados capitais dos cristãos. O que nos faz ter tanta dificuldade com o trabalho com a sombra é justamente o arquétipo cristão: ser sempre bom, só fazer o bem, nunca agredir ninguém, nunca se irar... A doutrina cristã é a escravidão da doutrina da CULPA. E as sombras que se alimentam desse sentimento chamado CULPA são sempre monstruosas... CULPA, essa coisa que tantos de nós cultivamos de forma tão cuidadosa! Quantas vezes nos sentimos culpados por mil coisas, ficamos inventando maneiras de "expiar essa culpa", "pagar nossos pecados"... Quantas vezes carregamos as culpas do mundo, de nossos pais, nossos políticos, por exemplo? Como ao invés de alguém ficar revoltado com um prefeito corrupto, por exemplo, alguém ainda diz "ah, mas a culpa é nossa de termos votado nele! Ele não tem culpa!". Ah! Chega de bobeiras... A culpa só é útil se nos ensina alguma coisa, por exemplo a não votar mais nos corruptos. Afora isso, o que se ganha com ela? Vejamos outros sentimentos negativos em comparação. Por exemplo, a dor da perda. Quando você se depara com uma perda, morte de uma pessoa querida, fim um relacionamento ou um projeto, você fica triste e deprimido. Você fica de luto. O luto tem uma função: deixar você lamentar o que perdeu e ao mesmo tempo te mostrar que aquilo acabou. Por um ponto final para que aquilo não te atormente o resto da vida. Por isso, por exemplo, as pessoas que têm parentes que desaparecem e estão obviamente mortos, mas nunca se encontrou o corpo, ficam anos a fio presas à perda, porque não conseguiram viver o luto a que tinham direito. Pois é, então depressão e tristeza em relação à perda são emoções difíceis de serem vividas, mas são positivas, elas tem uma função na psique, elas preparam uma nova fase da vida. E a culpa? A culpa não traz riqueza alguma. Só se interessa pela culpa quem quer manipular outra pessoa. A culpa é o grande coringa que permite todos os tipos de manipulação psicológica e relações doentias, de medo e submissão, de amor dependente. " Você não pode fazer isso se me ama...", "ai, filhinha se você for viajar com seu namorado eu vou ter um ataque cardíaco e a culpa é sua..." "Ah, você não pode viver sua vida porque seus pais te amam e precisam de você." "Se eu sou uma pessoa espiritualizada jamais vou me alterar, senão vou trazer consequências terríveis para mim e os que me cercam...", "ah, se eu tivesse feito isso, ah se eu não tivesse feito aquilo..." Culpa é escravidão. Ninguém é senhor de si enquanto vive com culpas. Não existe trabalho mágico real se estamos presos à culpa e não enfrentamos a sombra. E foi sobre esse sentimento inútil em termos de ganho da psique que se ergueu a sociedade ocidental sob a égide do cristianismo. E o que tem tudo isso a ver com a Deusa Negra? É justamente o arquétipo da Deusa Negra que vem nos trazer a abençoada libertação dos padrões de pensamento e comportamento baseados na culpa dos cristãos. Sehkmet dos egípcios, a Deusa com cabeça de Leão, é um bom exemplo para falarmos desse tema. Ela personifica o poder do Sol, mas o poder destruidor do Sol. No Egito o Sol tanto trazia a vida para as colheitas quanto trazia a seca mortal e a peste que vinha do deserto. Diz a sua história que seu pai o Deus Sol estava descontente com os homens e resolveu castigá-los. Soltou sua filha em fúria e ela foi matando pessoas. A um certo ponto da matança, Geb resolveu interromper o castigo, que já achava suficiente. Mas o ódio de Sehkmet não era facilmente controlável, ela continuou matando sem parar, embriagada pelo sangue. O jeito com que foi parada é que o Deus Thot espalhou vários jarros de cerveja pintada de vermelho pelos templos do país. Ela se embriagou, dormiu e sua ira assim diminuiu. Outra Deusa que nos traz esse conteúdo de revolta é Pele, a Deusa havaiana dos vulcões. Ela amava um Deus e o desposou. Mas sua irmã, a Deusa do mar, o tirou dela, traindo-a. Pele, em fúria, fez suas lavas brigarem muito tempo com o mar e do seu ódio foi criado o Havaí (que realmente é só lava vulcânica). Por que citar essas Deusas? Para exemplificar como se trabalha com deusas negras. Por exemplo: medite com Elas fazendo-se perguntas:
1 o que me revolta?
2 o que me enfurece?
3 quem me traiu?
4 quem me abandonou?
5 o que é capaz de me fazer destruir alguma coisa ou alguém?
6 o que aplaca minha raiva?
7 como meu ódio pode ser criador?
São as riquezas dessas respostas que a Deusa Negra tem para nos trazer. É claro que o tema é muito mais amplo. Só quero dar uma pincelada sobre ele.
A Deusa Negra nos traz muitas qualidades da sombra.
Falemos agora da famosa Lillith, conhecida como a Lua Negra. Quem é Lilith? Lillith é uma Deusa venerada na Mesopotâmia, onde havia culturas religiosas fortemente baseadas em uma prática que se convencionou chamar "prostituição sagrada". Coloco o termo entre aspas porque sempre que vemos a palavra prostituição soa em nossas mentes o alarme do conteúdo negativo que a sociedade patriarcal deu ao termo. E o que eram essas culturas? No grande templo de Innana havia o culto a Ela como grande Mãe, depois Deusa do amor. As sacerdotisas praticavam sexo ritual com homens escolhidos para que a nação tivesse as bençãos do Grande Rito: fertilidade, vida, prosperidade, boas colheitas...o coração da nação era esse templo. centenas de homens eram para lá convidados todos os dias. Hoje muitos que escrevem sobre o tema, imbuídos de uma concepção machista, tentam minimizar a importância da sacerdotisas que exerciam esse papel. A verdade é que eram muito consideradas e tinham influência política e econômica imensa, influenciando diretamente na escolha dos governantes. A porção donzela de Innana era a Deusa Lillith, e eram chamadas de Lillith as sacerdotisas mais jovens que saiam às ruas para buscar os homens escolhidos para as práticas rituais sexuais naquele dia. Lillith era " a mão da Deusa" que ia buscar os homens e trazê-los aos templos. por isso ela também é chamada de a Donzela Negra. Imaginem o choque cultural que houve quando os judeus chegaram a essa nação. Para os judeus, sexo era um mal necessário para a procriação. A mulher, uma coisa impura quando menstruava, alias, menos que um objeto. Podia ser apedrejada até a morte só por ter ousado falar mais alto, já que o marido era seu dono e senhor... Imaginem o que sentiram os patriarcais judeus em uma sociedade (eles chegaram à Babilonia como escravos) onde as mulheres eram respeitadíssimas e as sumas sacerdotisas transavam com muitos homens e eram respeitadas por isso!!!! Não é difícil perceber porque Lillith acabou sendo para os judeus uma "demônia" ou a "mãe de todos os demônios". È a famosa sombra... O que se teme - no caso a liberdade sexual da mulher, o que nos ameaça - uma mulher independente do homem- é obviamente ameaçador e deve ser "demonizado", ou seja, deve ser execrado, desprezado, amaldiçoado, rotulado como o "mal"... Quando hoje uma cabalista, por exemplo (doutrina de base essencialmente judaica) diz a uma aluna minha que "jamais invocaria um demônio como Lillith", o que ela expressa é esse profundo preconceito que os cristãos tomaram emprestado. Lillith é uma Deusa Negra que nos traz a incomparável riqueza de discutir nossa sombra em relação à sexualidade. Todo mundo sabe como a maior parte das pessoas tem medo e dificuldade até de falar sobre sexo... Quanto mais de questionar seus medos, preferências e práticas...assim se compreende facilmente as fantasias e o medo de Lillith. Bem, imaginem como a vivência do arquétipo de Lillith pode beneficiar nossa sociedade. Todos, homens e mulheres, por ela, podem discutir suas vidas sexuais, seus relacionamentos, suas amarras, seus medos, seus dilemas. Ela traz a redenção da culpa sexual, que nos torna presa fácil dos preconceitos, das vidas sempre insatisfeitas, do controle de muitos... Ela pode libertar o homem e a mulher da opressão sexual, ela pode nos ajudar a viver em um mundo de mais equilíbrio, onde um não tema o poder do outro.
Tudo isso é o trabalho da Deusa Negra em nós.
A importância de conhecer a Deusa Negra reside no fato de que não existe real conhecimento da Deusa se não se conhecem suas múltiplas facetas, da mesma forma que não nos conhecemos de verdade se não conhecermos nossa sombra. O divino feminino conhecido apenas parcialmente é aquele que persistiu nas igrejas católicas, com o culto a Maria. Maria é a Deusa, mas uma Deusa "aleijada", ou seja, que perdeu muitos de seus atributos originários. Maria é Virgem, Mãe, Consoladora, Protetora, mas não é Anciã, nem Senhora da Magia, nem Prostituta Sagrada, nem Guerreira, nem Vingadora, nem a Ceifeira, todos estes últimos atributos das Deusas Negras. É perfeitamente natural que as pessoas que começam a conhecer a wicca se adaptem facilmente a uma Deusa Mãe, protetora, gentil e distribuidora de fartura e vida. Do mesmo modo, é natural que admirem e aceitem rapidamente a Donzela sedutora e portadora da alegria e das flores. Mas quando as pessoas tem que aceitar que a Deusa não é cor-de-rosa, nem é a Barbie Cósmica, que ela tem várias faces muito difíceis de conhecer e enfrentar, tudo muda de figura. Em nossa lista de discussão aconteceu um caso que vale a pena mencionar. Muitos devem lembrar de um jovem que iniciou seu caminho na wicca, leu muito, aprendeu e começou a praticar. Um dia se sentiu pronto a trabalhar com a Deusa negra e quando fez seu ritual e contatou a Senhora da Morte pela primeira vez foi assaltado por sua formação cristã, da qual ainda era escravo. Mandou então um e-mail à lista dizendo: "A Deusa é má! Vocês cultuam o mal, uma portadora da morte". Bem, essa reação, apesar de ser uma das mais exageradas que já vi, é normal. Imaginem-se frente a frente com aquela clássica figura da Morte vestida com um manto de capuz negro e uma enorme foice na mão... Agora imaginem que Ela se aproxima de um ente querido seu, ou de vocês mesmos... Vocês conseguem, antes de conhecê-la bem, olharem para Ela e a venerarem como a Deusa? Ah, mas Ela é tão a Deusa quanto a Mãe que te pega no colo, ou a linda Donzela da Primavera...E agora? Agora a resposta é compreender o papel na Ceifeira na ordem das coisas, como a Senhora da Morte é também a Senhora dos Renascimentos. Todos nós vivemos a morte todos os dias. Imaginem quantas células do seu corpo morrem a cada dia... Imaginem quantos seres morrem perto de você (de microorganismos aos vegetais e animais que você usa para se alimentar) a cada semana... A VIDA SE ALIMENTA DA MORTE. As mulheres vivem uma importante morte todos os meses: a menstruação, aquele sangue que é sagrado porque era uma vida humana em potencial, sendo o sangramento uma pequena morte. Sem a Ceifeira a vida em nosso planeta seria impossível... Ela, a Senhora dos Ciclos, a Senhora dos Corvos, Senhora dos Ossos, Mãe do Pó, a Velha que se veste de mortalhas... Ela vem nos convidar a olhar nossas vidas e ver o que precisa ser cortado. O que é que não nos serve mais e precisamos deixar ir. Ela nos estende o espelho negro para que possamos conhecer quem realmente somos, mesmo aquelas porções de que nos envergonhamos, aquelas que têm sentimentos que nos fazem sentir culpados, as que não confessamos nem a nós mesmos... Encontrá-la pode ser a um só tempo triste e angustiante, para alguns insuportável e desesperador... Para estes, porém, daí em diante o caminho mágico estará irremediavelmente vedado.
Só a Deusa Negra é Senhora da Magia, só Ela é capaz de abrir os portais.
Por que? Porque só ela é nossa Libertadora, só ela nos arranca as cascas do auto-engano, da auto-ilusão, dos delírios de auto- importância, quando nos mostra nossos erros, nossa miséria, nossa pequenez humana. Mas é justamente ao nos mostrar as falhas de nossa humanidade que a Senhora Negra nos redime, porque afinal, para a Deusa, toda a sua criação é perfeita, inclusive nós. E por reconhecer nossa imperfeição, que nos faz humanos, Ela nos oferece todo o seu Poder e retomamos nosso Poder Pessoal.
HÉCATE, A DEUSA DAS BRUXAS
Na mitologia greco-romana Hécate ocupava um lugar muito especial. Embora seja muito pouco citada nos livros de mitologia mais conhecidos, seu culto era amplo e generalizado entre o povo. Para vocês calcularem a importância de Hécate, ela era honrada até mesmo por Zeus, como uma Titânida dos Titãs, ou seja, uma Deusa pré-olimpiana... Hécate recebia diversos títulos, como Kratay, e Eurybia, a Deusa Forte, em uma referência aos deuses que originaram o panteão grego. Tudo isso leva a crer que Hécate é uma Deusa cujo culto já se havia estabelecido antes da própria civilização grega. Uma coisa que bem revela a importância de Hécate foi o decreto de Zeus: cada vez que alguém deitasse uma oferenda na terra sem ofertá-la a nenhum Deus específico, a oferenda era de Hécate, o que significava que Zeus reconhecia que o que estava sobre a Terra era dela, em principio... Hécate é a Senhora dos Mortos, líder do que se chama em muitas mitologias " A caça selvagem". Esta se constitui de um grupo de fantasmas e animais astrais, corvos, corujas, cachorros que uivam lugubremente, que passa na Terra ao fim de cada dia para recolher as almas dos mortos naquele dia. Ouvir cães uivando a noite é sinal certo da presença de Hécate. Nunca fiz um ritual para Hécate sem os uivos ou latidos de cães. Do mesmo modo que lidera a Caça Selvagem, Hécate conduz as almas dos mortos e também os vivos, nas estradas, aos melhores caminhos, por isso é representada com uma tocha na mão. Ela é a Senhora que Guia, e assim podemos contatá-la. Hécate também preside os nascimentos, por isso é chamada Protiraya, a Senhora dos Portais, sendo a vagina o portal do ingresso nesta vida. Assim, é invocada durante os partos como condutora da alma à reencarnação, junto com Artemis (que é parteira e protetora das crianças). Infelizmente, ao menos nos livros que conheço em português, não há referências ao culto de Hécate como Senhora da Magia e dos Oráculos, geralmente por puro preconceito. Karl Kereny em sua obra de mitologia grega escreve o seguinte; "Hécate Trivia era cultuada nas encruzilhadas de Três Caminhos. O que as mulheres faziam nesses locais não é mais mitologia, pertence aos domínios da feitiçaria e como tal não abordarei o assunto". Hécate é representada também com um athame na mão, rezando a tradição que foi a criadora desse instrumento mágico. Como se trabalha com Hécate? Hécate é uma Deusa muito rica, lembrando que é uma Deusa Tríplice, possuindo, pois, aspectos de jovem, mãe e Anciã. Ela é dona do caldeirão da transformação, onde residem todas as possibilidades. Um trabalho com Hécate pode ter mil facetas justamente por isso: vc pode desde trabalhar os entraves na sua vida financeira, até seu caminho espiritual , suas capacidades mágicas e oraculares até pedir a intercessão dela em um caso de morte ou nascimento difíceis; pode pedir que Ela oriente você ao melhor caminho nas encruzilhadas da vida... Enfim, todo o trabalho mágico pode passar por essa Deusa maravilhosa. Não é a toa que Hécate é chamada a Deusa de todos as Bruxas (perdoem-me os que não usam o panteão grego). Falando em Hécate como senhora da Morte, vocês sabiam que um wiccaniano sempre medita na própria morte? A morte não é fim, nem é castigo para nós, então devemos nos preparar para aceitá-la como inevitável e natural. Devemos nos preparar para olhar a Ceifeira nos olhos e dizer que a amamos. Isso não é nada fácil, especialmente em um mundo voltado para coisas que fazem as pessoas disfarçarem a morte e o medo que têm dela... Quando vocês puderem olhar a Senhora Negra nos Olhos e puderem dizer a Ela: eu te amo... bem, já que vocês me perguntam tanto sobre iniciações, se eu tivesse que escolher o que marca o nascimento de uma bruxa ou bruxo eu escolheria este momento...
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