"As Deusas Falam: Todo lugar que você vê é meu templo. Todos os eventos são atos de veneração a mim(...)" DeviGitaX.3
"O Budismo tem sua própria tradição de Tantra que tem sido preservada principalmente no Tibet, mas pode ser encontrada até certo ponto em todos os lugares, onde o Budismo Tântrico possui, de uma forma geral, muito em comum com o Hinduísmo. Na verdade, parece ter mais em comum com o Hinduísmo que com as tradições do Budismo Theravadin do sudeste da Ásia. O Budismo Tântrico é caracterizado por ritual de veneração (puja), devoção a formas de deuses e deusas (bhakti), Mantra Yoga, e uma ênfase em técnicas de Yoga, que são geralmente encontradas no Budismo do sul do Sri Lanka, Burma e Tailândia, mas os quais são fundamentais para o Hinduismo. Outro aspecto da cultura Hindu e Védica como os rituais do fogo (homa), medicina Ayurvédica, e astrologia Védica são parte da tradição do Budismo, particularmente a tibetana.
O Budismo como o Tantra Hindu empregam imagens de deusas e yogues (forças femininas do Yoga). Em pelo menos dois exemplos (Tara e Chhinnamasta) as imagens Budistas tem os mesmos nomes ou descrições das deusas hindus da sabedoria. O Budismo Tântrico ensina a devoção das deusas Hindus como Sarasvati e Lakshmi — que correspondem a Matangi e Kainala das deusas da sabedoria — e deuses Hindus como Ganesh e Kubera. Uma importante deidade, Mahakala do Budismo Tibetano parece ser a variação de Shiva-Mahakala do Hinduismo. A principal deidade Budista do Bodhisattva, Avalokiteshvara, é retratada em formas similares a tanto Shiva quanto Vishnu.
A deusa Tara é talvez a mais óbvia deidade em comum em ambas as tradições Hinduísta e Budista. Na tradição Budista Tara é a principal das Bodhisattvas femininas: um ser que viveu uma vez e fez um voto de ajudar todos os seres no futuro que clamarem por ela. Os Bodhisattvas Budistas tem mais ou menos o mesmo papel que as deidades da tradição Hindu. Elas não são simplesmente grandes seres do passado, mas princípios cósmicos e definitivamente a própria consciência. Assim considerando Tara aparece como a forma Budista da Deusa Suprema, Mãe Divina, criadora, preservadora e destruidora dos mundos. Similarmente, enquanto a Deusa Hindu é a Mãe cósmica muito além de qualquer necessidade de encarnação, como uma Bodhisattva ela assume formas para ajudar, ensinar ou salvar os seres. Ela está sempre presente por nós para requisita-la.
Tara na tradição Budista ocupa um papel como a Maheshvari ou Mahadevi, a Grande Deusa e Mãe dos mundos no Hinduismo. Ela representa geralmente o poder feminino e possui várias formas diferentes. Por outro lado, a figura de Tara na tradição Hindu não é tão comumente mencionada como as deidades Lakshmi, Kali, Durga, Parvati, ou Sarasvati. Tara é geralmente interpretada como uma das formas de Durga, que frequentemente representa a própria Mãe Suprema. Assim como Durga-Tara podem ser representadas como as Deusas supremas para ambos Hindus e Budistas.
A palavra Tara é um termo sânscrito antigo. Ocorre primeiramente no Yajur Veda (um antigo texto da era pré-Budista) no masculino como um nome para o Senhor Shiva como o que salva ou retira-nos das trevas e sofrimento.
Reverencia a salvadora (Tara), reverencia a que confere felicidade e a que confere prazer, reverencia a que produz a paz e a que produz prazer, reverencia ao auspicioso (Shiva) e a mais auspiciosa. — Taittiriya Samhital.
O nome Tara primeiro ocorre na mesma seção dos Vedas onde o grande mantra de reverencia a Shiva (namah Shivaya) também primeiro aparece, e assim como os sete nomes principais desta deidade. Tarini, que como Tara significa o salvador, é utilizado como um nome para Durga no Mahabharata. Aparece no Hino de Arjuna a Durga antes da Guerra do Mahabharata na qual ele invoca sua graça para a vitória na batalha. A principal função de Durga é salvar-nos da dificuldade, assim como Tara. A veneração a Durga-Tara e Shiva é parte da mesma tradição referindo aos tempos Védicos.
Ambos Budismo e Hinduísmo empregam a imagem da sabedoria como sendo a embarcação que nos atravessa através das águas do mundo ou do oceano de Samsara. Ambos sabedoria e embarcação são termos femininos em Sânscrito. O termo Budista para sabedoria, Prajna, é um termo védico e aparece nas Upanishads também, juntamente com muitas outras palavras ou termos Védicos femininos para sabedoria (como medha, dhi, tnati, manisha, yak, vani, nau). Um mantra para Durga, que aparece no suplemento do Rig Veda, fala de sua ação salvadora usando o termo Tara:
O renacido que venera a linda, gentil Deusa que tem a cor do fogo, o Fogo os leva através (tarayati) de todas dificuldades, como um navio através do mar. — Rig Veda Parishishthani.
A raiz Sânscrita tri, "salvar”, é comum no pensamento Védico, particularmente na metáfora de atravessar o mar. Tam é o mesmo em ambos Hinduismo e Budismo como uma Deusa da sabedoria e entrega simbolizada pela embarcação da Palavra Divina, mas ela é mais comumente chamada Durga na tradição Hindu, onde ela tem uma maior variedade de funções e aspectos como a consorte do Senhor Shiva.
O rishi ou aquele que vê para a Tara Hindu é Akshobhya, que é sua consorte na terminologia Budista e também um Bodhisattva. O Akshobhya Hindu é uma forma do Senhor Shiva, que como o significado do termo não pode ser perturbado ou abalado. Além disso, Tara (ou Nila Sarasvati como ela é também chamada) é relacionada à China ou Mahachina, China ou Tibet, nos textos Tântricos Hindus (como o Devi Gita). Isto conecta a Tara Hindu com influencias Budistas. Entretanto, antigos textos Védicos e pre-Budistas (como Aitareya Brahmana viii. 14) falam de terras Védicas localizadas "além dos Himalaias”, sugerindo que o Tibet era anteriormente uma terra de cultura Védica. A pre-Budista Tibetana Bon religião, notamos, contém muitos elementos dos ensinamentos Hindus e Védicos como o Shaivismo.
A forma de meditação Budista de Tara é semelhante à forma Hindu de Laksmi. Ambas são usualmente simbolizadas na mesma posição sentada, com a perna direita pendente, com duas lótus em cada lado, e possuindo o mesmo gesto de mão básico. A única diferença é que a Tara Budista realiza o gesto da mão tocando o polegar e dedo indicador, enquanto Lakshmi tem suas mãos abertas. A Tara Hindu possui uma forma mais parecida com Kali, como discutido in sua sessão do livro. Isso é porque a Tara Budista como uma forma geral da Deusa contém muitas das funções da Divina Mãe que no Hinduísmo são dadas a Laksmi e Sarasvati.
Portanto há pouca diferença entre a forma, função e uso da Tara nas tradições Hindu e Budista, ou do lugar da Deusa como um todo e as maneiras de sua adoração. Alguns eruditos, notavelmente Lama Govinda, tem tentado diferenciar Bodhisattvas Budistas femininas das Deusas Hindus seguindo a ideia de que a anterior representa sabedoria (Prajña), enquanto a posterior representa somente poder (Shakti), que é dito serem diferentes conceitos. Esta distinção é superficial, como já deveria ser evidente a partir das informações neste livro. As Deusas Hindus possuem três formas; como conhecimento, força e beleza (as três formas básicas de Sarasvati, Kali e Laksmi), que sempre andam juntas. Acima de tudo, Shakti é Cit-Shakti, a força da consciência. As Deusas Hindus são também chamadas Vidyas ou formas de conhecimento. E o Budismo Prajfla tem seu poder de iluminar, salvar ou proteger, e é similarmente a fonte de amor, compaixão e beleza.
Nós somos levados a seguinte conclusão: A forma de Tara que nós achamos na tradição Hindu parece estar em harmonia com o desenvolvimento do mesmo nome e termo das antigas fontes Védicas. A função de Tara como a geradora, que é um dos aspectos da consorte de Shiva, não requer outra influencia externa para explicar seu lugar dentro da tradição Hindu. Tara como um nome para ambos Shiva e sua consorte pode ser reconhecido em hinos Védicos muito antes do advento do Buddha.
O Budismo desenvolve a ideia de sabedoria salvacionista que é herdada do pensamento Budista, através da forma de Tara, que se torna sua formulação primordial do papel das Deusas. Isto de ser um desenvolvimento das primitivas ideias Védicas de sabedoria salvacionista, ou talvez seja um desenvolvimento independente. A natureza feminina da sabedoria não parece ser limitada a nenhuma tradição em particular como nós podemos observar através de figuras femininas como a Sophia do Gnosticism ou Isis no antigo Egito. Assim nada na ideia Budista de Tara requer uma influência externa para explicar seu papel também.
Isto não quer dizer que as duas formas de Tara não são relacionadas, mas que sua relação são mais devidas às afinidades gerais entre as duas tradições que qualquer empréstimo significativo. Ambas as tradições refletem uma base comum na cultura Védica, na tradição do yoga e no Tantra. Enquanto tem havido diferenças entre elas, estas na maioria tem sido superficiais e semânticas. As duas tradições se sobrepõe em grande extensão, que é o que nós verificamos em suas imagens das Deusas. Apenas em termos como karma, dharma ou nirvana ocorrem comumente em ambas às tradições, pois elas dividem uma cultura e língua em comum, logo do formas de Deuses e Deusas aparecem em cada uma delas. A origem do termo Tara, entretanto, deriva dos Vedas, que precedem o Budismo. Ainda que a ênfase do nome Tara como a Deusa suprema é primordialmente Budista.
Ambos Hinduísmo e Budismo (e o Jainismo também), deveríamos notar, seguem as mesmas regras de ícones descritos, incluindo seus ornamentos, armas, aparatos, posturas e gestos (mudras), e para os métodos de rituais de veneração, o uso de mantras, yantras e outras práticas. Se nós examinarmos o Inantra Budista para Tara, este é similar aos mantras para as Deusas Hindus.
Om tire tutäre ture svaha!
O mantra inicia com Om, que é o principal dos mantras Védicos e é também chamado Taraka ou o poder of deliverance. O mantra termina com SvThi, o principal mantra com o qual oferendas são feitas a Agni ou o fogo sagrado Védico, que é também considerado como outro nome para Durga.
Tura significa rapidamente; a Deusa é exaltada por sua rápida ajuda aos seus devotos.
O papel das Yoginis, ou deidades femininas do Yoga ocorre em ambos pensamentos Hindu e Budista. No Budismo as Yoginis, como as Bodhisattvas, são espíritos que nos guiam na prática do Yoga. As Yoginis aparecem no pensamento Hindu não somente como guias na pratica do Yoga, mas como feroz Deusas e formas de Kali.
A mais importante yogini budista é VajraYogini. Ela é relacionada a Vajra Sattva (o ser diamante), que é a principal deidade do Vajrayana, o caminho Vajra, que é dito ser o mais elevado caminho mesmo maior que o Mahayana ou Grande Veículo. A descrição Budista da Yogini Vajra é exatamente a mesma que Chhinnamasta, um tronco sem cabeça segurando sua cabeça cortada em uma mão e bebendo seu próprio sangue. O Chhinamasta Hindu é também chamado Vajra Vairochani, ou a senhora resplandecente de Vajra ou thunderbolt. Quem maneja o Vajra nos Vedas não é outra se não Indra, a principal dos antigos Deuses védicos. Entretanto, não deveremos confundir a Indra Védica com a Indra do posterior pensamento Hindu e Budista, que é meramente o Senhor do Paraíso ou o Rei dos Deuses. A Indra Védica é o Supremo Deus que dá iluminação. Sua principal ação é vencer o Sol, o símbolo do Atman ou a natureza do ser.
Indra achou Aquela Verdade, o Sol que estava habitando na escuridão. — Vishvamitra, RVIJI.39.5
Portanto o Budista venera of Vajra Yogini e Vajra Sattva aparece ser a forma posterior de veneração do Deus Védico supremo Indra e seu consorte.
CONECÇÕES GERAIS ENTRE HINDUISMO E BUDISMO
Muitas outras deidades e práticas Hindus e Budistas são similares. A tradição Budista tem uma Deusa escura como Kali que veste uma guirlanda de crânios e é venerada em um terreno de cremação. Portanto, apesar de que existem variações de nome, forma e função, todas as principais ideias por traz do Dasha Mahavidya, assim como muitas das Deusas Hindus remetendo-se aos Vedas, tem paralelos no pensamento Budista, assim sendo, combinando suas formas de adoração, devem ser possíveis sem haver nenhuma violação nos seus significados.
Enquanto o Hinduísmo e o Budismo podem diferir em termos de nomes e formas, suas práticas essenciais de yoga são as mesmas. Suas diferenças semânticas podem geralmente ser facilmente resolvidas, tal questão nós iremos examinar brevemente aqui, apesar disto requerer um estudo com seu próprio direito. O mais importante é a visão que a ideia Budista de anatman ou não-ego é contrária ao conceito Hindu de Atman ou o ser elevado.
Enquanto essa dicotomia aparece primeiramente é notável, se examinarmos mais profundamente ela desaparece. O Atman Hindu ou Ser não é o ego ou auto-imagem, a entidade condicionada identificada com o complexo corpo-mente (apesar de que Atman em um sentido menos elevado pode ter estes significados). O termo mais comum para ego no pensamento Hindu é ahankara ou a "fabricação do eu”.Como Krishna declara:
O sábio que abandonando todos os desejos vive livre de anseios, o qual não tem senso do ego (nirahankara) ou de mineness (nirmama), alcança a paz.— Bhagavad Gita 11.71
Este conceito, encontrado também em textos Budistas, é igualmente a essência do Budismo e do Hinduísmo. Enquanto o Budismo tecnicamente rejeita o termo Atman, existem termos similares como "natureza do Eu" ou "a face original antes do nascimento." Termos como "consciência pura," "não dualidade " ou o "absoluto" são comuns em ambas as tradições. O termo Budista Bodhicitta, como o Hindu Atman, refere-se a consciência iluminada que habita dentro do coração. Ambas tradições desse modo revolve em torno da discriminação entre o ego (atman Budismo ou o Hindu ahankara) e consciência iluminada (Budismo Bodhichitta ou o Hindu Atman). Ainda ambas as tradições concordam que a verdade transcenda todas as palavras, idéias e dicotomias da mente e é melhor revelada pelo silêncio ou pela negação de todos os nomes e termos. No Brihadaranyaka, o mais antigo Upanishad, Brabman (o Absoluto) é descrito como "neti-neti" ou não isso, nem aquilo. Esta visão é a mesma que o ensinamento da Vacuidade do Budismo, Shunyavada, como enfatizado pelo grande professor Budista Maliayana Nagarjuna, que a verdade está além de todas as visões conceituais. O Budismo também parece rejeitar o termo Brahman, o principal Deus ou o Absoluto do Hinduismo. Ainda que haja termos similares como o não nascido, não criado, Absoluto ou Dharmakaya. Na verdade a equação Hindu que Atman é Brahman pode ser identificada com a equação Budista que a Mente é Buddha. Atman e Mente representam a pura consciência, não para o ego ou mente condicionada. Buda e Braliman representam a suprema realidade. Portanto o Hinduísmo e o Budismo são duas formulações da mesma tradição yóguica, diferenciando-se na abordagem, mas não na essência. "
Texto extraído do apêndice de "Yoga Tântrico e a Sabedoria das Deusas" de David Frawley. Editora Motilal Banarsidass; fonte: http://www.ayurveda-br.com/
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