Os bardos cantavam os grandes feitos dos homens famosos, em versos épicos, acompanhados pelos sons melodiosos da lira. A música original e grande parte da poesia épica desapareceram da tradição quando os mitos foram registrados pelos escritores cristãos. Contudo, algumas das histórias, relativas, principalmente, aos feitos heroicos dos lendários guerreiros célticos, sobreviveram e constituem a substância da literatura a que chamamos agora Mitologia Céltica.
A mitologia pode dizer-nos muitas coisas acerca de uma sociedade, antiga ou moderna. Todavia, antes de podermos começar a compreender a natureza da mitologia céltica, devemos, primeiro desfazer o nosso próprio mito moderno dos Celtas. Durante o final do século XVIII e o século XIX a principal referência aos mitos célticos encontrava-se em textos românticos; e estes proporcionavam uma fuga nostálgica da Era Industrial para uma era regida pela natureza e pela magia, povoada por guerreiros heroicos e por donzelas de pele clara.
Os poetas e os pintores de cada país redescobriram o seu próprio passado céltico: a Irlanda dirigiu o olhar para as lendas, como os contos de CuChulainn e de Fianna ou Feniana; o País de Gales teve a saga heróica de Pryderi no Mabinogion; o poeta escocês James Macpherson (1736 - 1796) forjou as suas Ossionic Ballads (Baladas Ossiânicas),reivindicando serem traduções de um poema gaélico, do século III, chamado Ossian; a Inglaterra ressuscitou as lendas do Rei Artur, em obras como o poema de Tcnnyson, Idjlls of the King (Idílios do Rei).
O Romantismo impregnou os mitos com as suas próprias noções românticas e manteve, frequentemente, os elementos de medievalismo cristão que ficaram ligados às primeiras versões escritas. A visão romântica do Crepúsculo Céltico, continua a influenciar a nossa percepção dos Celtas no fim do século XX. Precisamos, igualmente, dos nossos mundos de sonho, pelo que a palavra céltica evoca misteriosas paisagens banhadas pelo luar, com sacerdotes druidas de vestes brancas, celebrando estranhos rituais e preparando poções mágicas.
A arte céltica, particularmente na joalheria tem um encanto abstrato que lhe é próprio, denotando ainda uma atração por um passado desconhecido. A literatura céltica tem um encantamento semelhante, o narrador leva-nos de um mundo de gente e de lugares aparentemente reais para terras fantásticas de fadas e de monstros; e tal descrição é fácil de nos enfeitiçar por uma tal cultura. Devemos perguntar-nos se os próprios Celtas entendiam a sua religião como um mistério e os seus poemas como fugas ao mundo real.
As respostas não surgem prontamente: os Celtas não escreveram as suas histórias. Portanto, limitamo-nos a saber quais eram os seus costumes e o seu comportamento pelo testemunho dos autores contemporâneos gregos e romanos, se bem que a sua visão dos Celtas fosse tão mítica quanto a nossa, porque se baseava na suposição de que os Celtas eram bárbaros não civilizados.
Contudo, a arqueologia tem confirmado algumas das observações mais radicais dos escritores clássicos: onde os Celtas praticavam realmente sacrifícios humanos e eram caçadores de cabeças. A arqueologia também aumentou os nossos conhecimentos quanto à maneira como os Celtas viviam, praticavam o culto e enterravam os seus mortos. A datação arqueológica confirma de achados célticos não só confirma as historias como também nós informa sobre o passado pré-histórico dos Celtas.
Existiu uma cultura reconhecidamente “pro-céltica” ao redor do Danúbio superior no ano de 1000 a.C. Contudo, alguns arqueólogos defendem agora uma muito espalhada e gradual “celtização” de culturas que existiam já na Idade do Bronze na Europa Setentrional e Meridional; assim, a Bretanha céltica podia mesmo remontar a 1500 a.C., quando a cultura de Wessex possuía características sócias heroicas em conformidade como os primitivos mitos célticos irlandeses.
Fonte bibliográfica: Introdução à Mitologia Céltica de David Bellingham; site: Templo de Avalon
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