Texto: Lara Moncay
Nos tempos pré-históricos, a Itália, foi ocupada por dois grupos humanos de diferentes origens: mediterrâneos, aparentados aos cretenses e os pelasgos da Grécia continental e indo-europeus nômades, vindos do norte, como os que invadiram a Índia, Pérsia e a Grécia.
A religião de Roma e da Itália Romana aparece como uma velha religião autóctone, acrescida da contribuição dos indo-europeus, dos etruscos, o único povo estrangeiro que impôs sua lei a Roma, sendo eles próprios penetrados por influências da Grécia, sobretudo, nas diferentes épocas de seu desenvolvimento, e finalmente, dos cultos orientais.
Os Textos Sagrados da Religião Romana
Como textos sagrados, temos os fragmentos dos antigos Cantos Arvaus e dos Cantos Dálios – ambos são sacerdotes organizados em colégios. Há também os Oráculos Sibilinos, que nada tem em comum com os Livros Sibilinos que Tarquínio. Os Livros Sibilinos foram destruídos por ocasião do incêndio de Toma em 82 a.C. e foram substituídos por contrafações, fabricadas por judeus helenizantes. Os Livros Sibilinos forma adquiridos por Tarquínio pela Sibila de Cumas. Em muitas cidades as Sibilas – Pitonisas exaltadas a serviço de Apolo – proferiam oráculos bem recebidos tanto pelos gregos e romanos, como pelos orientais e israelitas.
A religião romana pode ser conhecida pelos escritores da literatura latina, especialmente por Varrão (116-27 a.C.), autor da obra intitulada De rebus divinis (das coisas divinas). O historiador Tito-Lívio (59 a.C. à 19 d. C.), assim como o poeta Ovídio (43 a.C. à 16 d.C), comentando em seus Fastos, o calendário das festas, são também, excelentes referências.
A Religião Primitiva de Roma
As sobrevivências totêmicas estão na crença em vegetais sagrados como a figueira e a fava e em animais sagrados, cujas lendas, justificam a proeminência: o lobo teria conduzido os samnitas à procura de um território, a loba, teria amamentado Rômulo e Remo, os gansos salvaram o Capitólio e os frangos eram considerados animais de presságios.
Algumas famílias conservavam os nomes totêmicos como os Porcci (porcos), os Fabii (fava). Sobre as insígnias das legiões figuram lobos, javalis e águias.
A palavra latina sacer, significa ao mesmo tempo o sagrado e o impuro. Havia dias nefastos, em que se ordena não pronunciar (non fari) as palavras sacramentais do oculto, há dias fastos. É proibido pronunciar o nome de certos deuses e tocar no saque feito durante a guerra.
O animismo romano coloca, em torno do homem, grande qualidade de espíritos. Procuram utilizá-los satisfazendo-os através da observação minuciosa de ritos.
Esses poderes impessoais são designados por uma palavra neutra – numem, plural numina. Assemelha-se a manifestação de manas, mas não parecem ligados a uma visão de conjunto sobre a unidade da matéria espalhada no mundo. São contidos em objetos materiais e aplicam-se a atos nitidamente definidos. Por exemplo, um espírito preside os campos, outro à preparação da terra, um terceiro às plantações, e assim sucessivamente.
Cada homem tem seu demônio (espírito) familiar, seu gênio (genius). Cada mulher possui um poder fecundante (juno). Há um espírito de barreira, separando as propriedades (terminus), um espírito da porta (janus), outro do lar (vesta). Existem espíritos protetores do solo e da casa, os "lares” e espíritos que protegem a despensa (penus), os penates. Quando se abandona a casa, deixam-se os lares para os outros, mas levam-se os penates. Os penates protegem os membros da família, mas não os escravos, os lares, mais populares os protegem.
Acreditavam na sobrevivência. Os mortos eram primitivamente enterrados sob o lar, que eles defendiam. Por eufemismo, chamavam manes (os bons) aos espíritos dos mortos. Dirigiam-lhe oferendas e refeições no dia dos mortos. Procuravam apaziguar os mortos hostis, os lêmures, através de determinadas cerimônias.
O animismo é acompanhado de magia. Os romanos reproduziam por imagens, por gestos e por palavras a realidade da qual desejava o aparecimento. Rodeiam-se as cidades com círculos mágicos para assegurar-lhes a defesa.
Festas campestres, algumas presididas pelo colégio dos sacerdotes Arvais (que significa campo), favorecem a vegetação, contribuem para o êxito da safra e das vindimas. Outros sacerdotes, os Lupercos (Lupus – lobo e Arcere – repelis), tiveram como tarefa principal correr nus - a fim de a roupa não atrapalhar a expansão da força mágica- e traçar um circulo que os lobos nunca ultrapassassem, esse era o objetivo da festa das Lupercais. Depois, Lupercos tornam-se, sobretudo estimuladores da fecundidade feminina, com um látego da pelo de bode, açoitavam as mulheres estéreis a fim de torná-las aptas à reprodução.
Os Sálios (da palavra salire – saltar) que formam outro colégio, executam, saltando e cantando, danças sagradas onde, entrechocando ruidosamente as armas e imitando o barulho das batalhas preparam a derrota do adversário e imantam seus escudos e suas lanças de força mágica.
Evolução da Religião de Roma
Pouco a poucos os espíritos vão se tornar deuses. Alguns destes deuses conservam o caráter neutro que tinham enquanto espíritos. Os romanos os dedicam preces, às vezes sem saber se são deuses ou deusas.: sive deus sive dea (quer seja deus ou deusa).
Todos os espíritos protetores das mulheres concentram-se na deusa Juno, desde uma época longínqua do matriarcado – o próprio nome Roma é feminino. O deus Término reúne os espíritos das demarcações que separam as propriedades. Os múltiplos deuses das portas tornam-se um só deus Janus, um Janus nacional. Janus Bifrons, de duas faces, das quais uma vigia a cidade e a outra o exterior, a fim de que nenhum intruso nela penetre. As portas de seu templo, fechadas em época de paz, ficam abertas durante a guerra: é preciso permitir aos combatentes entrar em sua cidade, pois o fechamento da porta seria abominável presságio, significando que nenhum guerreiro escaparia ao massacre.
(Janus)
As múltiplas divindades dos lares transformam-se em só divindade, Vesta, adorada num templo de forma arredondada como uma cabana – o templo mais antigo de Roma – por sacerdotisas castas, as Vestais, que aí mantém o fogo sagrado.
(Templo de Vesta)
Uma divindade rural é a Boa Deusa, deusa tutelar de um bosque sagrado próximo a Roma, é ela que a confraria dos arvais venera. Hércules é o protetor dos pais de família. A essas divindades particularmente antigas outras foram se juntar.
Os indo-europeus, conduzidos à vitória por um chefe único, divinizaram talvez esse chefe mágico e guerreiro. Uma sobrevivência desta concepção seria o costume de o general vitorioso, que recebe honras divinas, aparecer trajado com vestes de um deus, montando na quadriga divina. Em compensação, o chefe cujo poder mágico se revelou insuficiente, merecia a morte.
Em todo caso, os indo-europeus introduziram seu protetor todo poderoso comparável aos Zeus dos gregos, Júpiter, deus supremo do povo, deus supremo do universo.
Com Júpiter, formam uma tríade Marte, o deus da guerra e dos soldados e Quirino, o deus da paz e dos cidadãos pacíficos.
Além disso, o Panteão romano cedo acolhe as divindades estrangeiras: as primeiras divindades latinas, como Minerva, antiga deusa de Falérias, adotada pelos etruscos, que a impõe em Roma, será mais tarde Atena, a protetora dos trabalhadores, mas não possuirá as características guerreiras. A antiga tríade Júpiter – Marte – Quirino é substituída pela tríade Júpiter - Juno – Minerva. Diana, introduzida também pelos etruscos, será mais tarde identificada a Artêmis, a deusa da sorte e dos oráculos. Vênus divindade da Ardéia, reunindo nela, como Juno os espíritos da fecundidade, que existem, primeiro em cada mulher, será identificada como Afrodite.
Como Atena, Artêmis e Afrodite, outras divindades vêm da Grécia:Apolo, Posseidon, que confundem com Netuno, outrora deus das águas correntes, torna-se deus dos Oceanos. Deméter que identificam a antiga divindade local Ceres; Mercúrio que se transforma em Hermes, dentre outros.
Os Cultos Romanos
O culto é familiar e nacional.
Ao centro da casa, no lar, o romano piedoso reúne a família, até seus escravos, para orar e sacrificar alguns alimentos às divindades domésticas.
Quanto ao culto oficial, é um ritualismo estreitamente associado à vida política. Os sacerdotes são funcionários do Estado e encarregados do culto público.
A frente dos sacerdotes encontrava-se o rei, substituído, em seguida por aqueles que chamavam o rei dos sacrifícios. Abaixo do rei, três flâmines, isto é, assopradores, iluminadores do fogo sagrado; o flâmine de Júpiter, o de Marte e de Quirino. Abaixo destes, os pontífices, encarregados da construção de pontes, presidiam o culto nacional. Após a abolição da realeza, o grande pontífice (pontifex maximus) torna-se o mais poderoso de todos os sacerdotes.
Os decenviros (mais tarde quindecenviros) dos sacrifícios ocuparam-se com o culto devido aos deuses estrangeiros, aos deuses helênicos. Os áugures davam a conhecer a vontade dos deuses estudando o voo dos pássaros.
A religião romana encontrou, desde a antiguidade, ardorosos adversários. O mais eloquente foi o poeta Lucrécio (98-55 a.C.). Outras almas, que a religião não satisfez buscaram não à reflexão filosófica, mas ao sentimento místico. Voltam-se para os cultos orientais que penetram em Roma desde o século IV e II a. C. e que exerceram uma influência crescente, notadamente sobre as mulheres, escravos e estrangeiros. O culto de Cibele de Átis, culto de Osíris e de Ísis, depois de Serápis, culto sírio do Sol e de Mitra, dentre outros. Esses cultos sempre se apoiaram um no outro, sendo considerados como um sincretismo místico.
Os romanos conservadores inquietaram-se com a influência que essas religiões estrangeiras exerciam e em reação exaltaram o culto à Roma. Sob o império, esse culto toma a forma do culto dos Imperadores. Por um longo caminho, volta-se a adoração primitiva dos soberanos.
Entretanto, introduzida com os outros cultos orientais, uma religião vai erguer-se contra o culto dos imperadores: a religião cristã.
A piedade simples, sedutora e sincera, com uma grande escola de obediência e de força moral manifesta-se sobre tudo no culto doméstico. Por outro lado associa-se o culto do Imperador ao de Júpiter, tornando-se uma espécie de religião universal no seio do grande império mundial. Sob esse ponto de vista, a religião romana, preparou e forneceu a expansão de outra religião: o Cristianismo.
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