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8 de mar. de 2011

Morgana

O Eterno Feminino

Atrás de Guinevere estão as tradições das rainhas celtas. Atrás de Morgana e da Dama do Lago, se ocultam tradições de sacerdotisas e deusas. A rainha celta reinava por direito próprio, comandava exércitos como Boadicea e tinha amantes. Para os autores medievais esta liberdade e igualdade da mulher era inaceitável e incompreensível. Ela foi considerada libertina e atrevida ao se tornar infiel. Da mesma forma, dado que o mito pagão e a magia são considerados os piores dos pecados, Morgana se converte em uma bruxa que conspira contra Artur, e Nimue, a dama do Lago, passa a ser a ruína do embrutecido Merlim. Mas a história poderia ter sido bem diferente, não é mesmo? Pois sabe-se hoje, que o amor não é um sentimento que precise testemunhas, muito menos ser negociado, como foi imposto à     Guinevere. Na nossa Era, as mulheres já conquistaram seu espaço e o respeito dos homens e hoje nos unimos à eles através do amor da alma. Na tradição celta existe um belo entendimento do amor que resume-se a uma palavra: "anan cara". Anam é a palavra gaélica para alma e cara é a palavra para amigo. Na vida de todos, existe uma grande necessidade de um anam cara, um amigo da alma. Neste amor, somos compreendidos tal como somos, sem máscara ou afetação. As mentiras e meias-verdades superficiais e funcionais das relações sociais se dissolvem e pode-se ser como realmente se é. O amor permite que a compreensão se manifeste, pois quando se é compreendido, fica-se à vontade. A compreensão alimenta a relação. Quando nos sentimos realmente compreendidos, sentimo-nos desembaraçados para nos libertar à confiança e abrigo da alma da outra pessoa.

Este reconhecimento é descrito neste belo verso:

"TU NÃO TE PARECES COM NINGUÉM PORQUE TE AMO" Paulo Neruda

Esta arte do amor desvenda a identidade especial e sagrada da outra pessoa. O amor é a única luz que pode verdadeiramente ler a assinatura secreta da individualidade e da alma da outra pessoa. Somente o amor é letrado no mundo da origem e só ele pode decifrar a identidade e destino.

É  ao despertar o eterno feminino e as nossas deusas interiores que atrairemos oanam cara. Já permanecemos por tempo excessivo, cegas(os) às riquezas cognitivas do sentimento e à profundidade afetiva das idéias.

FADA MORGANA

Quando danço com a Vida danço meu próprio ritmo mantendo o meu compasso

Minhas marés anímicas estão alinhadas e fluem com a minha pulsação minha expressão única

Reverenciando a mim mesma eu reverencio tudo

Quando você dança com a sinfonia da Vida qual é seu ritmo?

É rápido ou lento lépido ou litúrgico repetitivo ou volúvel?

Você deixa o ritmo levá-la(o) ou abatê-la(o) acalmá-la(o) encorajá-la(o) ou perturbá--la(o)?

Como é seu ritmo?

Morgana representa na lenda arturiana, a figura de uma Deusa Tríplice da morte, da ressureição e do nascimento, incorporando uma jovem e bela donzela, uma vigorosa mãe criadora ou uma bruxa portadora da morte. Sua comunidade consta de um total de nove sacerdotisas (Gliten, Tyrone, Mazoe, Glitonea, Cliten, Thitis, Thetis, Moronoe e Morgana) que, nos tempos romanos, habitavam uma ilha diante das costas da Bretanha. Falam também das nove donzelas que, no submundo galês, vigiam o caldeirão que Artur procura, como pressagiando a procura do Santo Graal. Morgana faz seu debut literário no poema de Godofredo de Monntouth intitulado "Vita Merlini", como feiticeira benigna. Mas sob a pressão religiosa, os autores a convertem em uma irmã bastarda do rei, ambígua, freqüentemente maliciosa,  tutelada por Merlim, perturbadora e fonte de problemas. 

Nenhum personagem feminino foi tão confusamente descrito e distorcido como Morgana ou Morgan Le Fay. A tradição cristã a apresenta como uma bruxa perversa que seduz seu irmão mais novo, Artur, e dele concebe o filho. Entretanto, nesta época, em outras tribos celtas, como em muitas outras culturas, o sangue real não se misturava e era muito comum casarem irmãos, sem que isso acarretasse o estigma do incesto.

Morgana  e Artur tiveram um filho fruto de um Matrimônio Sagrado entre a Deusa (Morgana encarna como Sacerdotisa) e o futuro rei. 

O "Matrimônio Sagrado" era um ritual, no qual a vida sexual da mulher era dedicada à própria Deusa através de um ato de prostituição executado no templo. Essas práticas parecem, sob o ponto de vista da nossa experiência puritana, meramente licenciosas. Mas não podemos ignorar que elas faziam parte de uma religião, ou seja, eram um meio de adaptação ao reino interior ou espiritual. Práticas religiosas são baseadas em uma necessidade psicológica. A necessidade interior ou espiritual era aqui projetada no mundo concreto e encontrada através de um ato simbólico Se os rituais de prostituição sagrada fossem examinados sob essa luz, torna-se evidente que todas as mulheres devessem, uma vez na vida, dar-se não a um homem em particular, mas à Deusa, a seu próprio instinto, ao princípio Eros que nela existia. Para a mulher, o significado da experiência devia residir na sua submissão ao instinto, não importando que forma a experiência lhe acontecesse.

É Morgana, que depois da batalha final, ampara o irmão ferido de morte e o cuida com o zelo de uma mãe e consoladora espiritual.

O cristianismo menospreza o poder e o conhecimento de Morgana, do mesmo modo com que impediu a mulher à ascender ao sacerdócio, anulando completamente o seu poder pessoal.

Layamon, autor de um poema narrativo inglês é o primeiro a descrever como a mulher levou Artur pelas águas e não simplesmente recebendo-o na sua chegada. 

Morgana é a fada mais bela das que habitam Avalon. Não existem fundamentos suficientes para se acreditar que Avalon seja o lugar que a cultura celta atribuí como residência dos mortos. O que se sabe é que quando Artur é transportado sobre as águas em companhia das mulheres com destino a Avalon, se perde no horizonte do mito imemorial. Este é o pano de fundo sobre o qual se desenvolvem as diferentes lendas relativas à partida e imortalidade de Artur, que supostamente continua vivo dentro de uma caverna ou em uma ilha. Estas mulheres que acolheram Artur pertencem ao mundo das fadas, que provavelmente foi antes um mundo de deusas.

Segundo Robert Graves e Kathy Jones, a Morg-Ana "surgiu da união das estrelas com o ventre de Ana". Muitas vezes foi equiparada as deusas Morrigan e Macha, que presidiam as artes da guerra. Entretanto, como fada contralava o destino e conhecia as pessoas.

Famosa por seus poderes de cura, seu conhecimento de plantas medicinais e sua visão profética, era uma xamã capaz de alterara a sua forma, tomando o aspecto de diferentes animais para utilizar seu poder.

AVALON

Poucos são os autores que especulam sobre o tema "Avalon, residência dos Mortos" e menos ainda os que se atrevem a situá-la. Alguns o fizeram de uma forma extravagante, situando-a no Mediterrâneo. A crença de alguns de que esta ilha não era outra que a Sicília, explica o fenômeno de miragem que se produz no estreito de Messina se conheça com o nome de "fata morgana", recordando a feiticeira.

Avalon está inserida em uma relação de ilhas, algumas são verdadeiras, outras fruto de diversas obras literários.  Avalon se encontra em lugar indeterminado, que está vinculada aos celtas, não só os de Gales, mas também da Irlanda. 

Os irlandeses tinham a ideia de um enorme paraíso ocidental. Lá havia uma ilha das maças de sua propriedade. Emain Ablach, doce lugar onde habita o deus dos mares Manannan. Emain Ablach só era uma das ilhas do arquipélago atlântico, que se ampliava em direção ao sol sem limites conhecidos. Lá se encontrava Tir na nOg, a "Terra dos Jovens". Havia também uma "Terra de Mulheres", habitada por fadas parecidas às da irmandade de Morgana.

Avalon, para quem ainda a procura, é a viagem ao coração. É conhecida também como o "Céu de Artur", uma ilha do amor incondicional, onde tudo se harmoniza com a transmutação da energia luminosa do amor. Avalon é um reino interior. É a maravilhosa essência do verdadeiro ser nascendo a cada dia em nosso interior. É a nascente do amor no íntimo. E Morgana é a fada que nos faz refletir sobre tudo isso, pois foi ela, com todo seu amor, empregou todas as suas artes para curar as feridas de Artur.

Morgana possuiu muitos nomes e é a representação da energia mística das mulheres. Possui também, múltiplas facetas, é o arquétipo da Deusa-Lua e da Mulher Eterna; é Mãe, amante e filha; é Senhora da Vida e da Morte. Foi associada inclusive à rios, lagos, cachoeiras, magia, noite, vingança e profecias.

Morgana chega para despertar sua atenção para a independência. Você depende de outra pessoa até para respirar?  Pois saiba que se plantarmos uma árvore lado a lado elas se asfixiarão. O que cresce necessita de espaço, talvez um pequeno espaço para se exalar o perfume da rosa. Kahlil Gibran diz: "Deixai que haja espaço em vossa união. Deixai que os ventos dos céus dancem entre vós." O espaço permite que a diversidade encontre ritmo e contorno. Você desperdiça sua vitalidade focalizando os problemas dos outros, relegando os seus para um segundo plano? Você move-se com o rebanho sem exprimir suas ideias ou opiniões? Morgana pede para que você, pare, reflita e dimensione suas potencialidades, tentando se libertar de todas suas dependências físicas e psíquicas. É hora de mudar o ritmo! Morgana, a fada, chegou dançando à sua vida com seus tambores e sua magia para convidá-la a descobrir e viver seus ritmos. Talvez você nunca tenha descoberto seu ritmo porque você agradar àqueles com quem convive. Mas é de vital importância que você tenha seu próprio ritmo. Fluir com ele lhe dará mais energias, porque você deixará de reprimir o que lhe é natural. Morgana diz que a vitalidade, a saúde e a totalidade são cultivadas quando você flui com sua pulsação única.

JORNADA À AVALON

Procure um lugar sossegado em sua casa, onde não possa ser interrompida(o). Acenda um incenso e coloque uma música suave de fundo. Sente-se com a coluna ereta e coloque a sua frente uma caneta e papel. Agora feche os olhos e expire e inspire profundamente, tentando esvaziar a sua mente. Comece então a balançar o corpo da direita para esquerda lentamente. Você agora perceberá que está dentro de um pequeno barco. O barco balança para trás e para frente. Faça o mesmo jogo com seu corpo. A sensação será bem agradável, de relaxamento total. Você olhará para cima e só verá a bruma, que irá se dissipar aos poucos. Erga os braços e visualize uma luz branca direcionar-se do céu para baixo, que entrará por cima de sua cabeça e iluminará todo o corpo. Neste momento notará que a bruma desapareceu e avistará a ilha de Avalon. O barco chegará à margem e você deve desembarcar. Morgana lhe dará as Boas-Vindas.

Ela perguntará o que você deseja e terá então o direito de lhe fazer duas perguntas. Ela tomará a sua mão e a(o) conduzirá até seu caldeirão mágico disposto no centro de um círculo de macieiras. Morgana pegará sua varinha mágica e agitará a água do caldeirão. Quando a água se aquietar, você verá na superfície as respostas de suas perguntas. Você deverá então, agradecer sua ajuda e provavelmente ela lhe peça uma oferenda, que você ofertará de coração aberto. Ela lhe conduzirá de volta ao seu barco e você parte.

Agora respire fundo novamente por três vezes e abra os olhos bem devagar. É hora de anotar tudo o que você viu no caldeirão de Morgana e refletir.

Rosane Volpatto

Bibliografia Consultada:

Mistérios Celtas - John Sharkey

O Rei Artur - Geoffrey Ashe

O Rei Artur - Paul C. Doherty

Anam Cara - John O'Donohue

O Livro da Mitologia Celta - Claudio Crow Quintino

Livro Mágico da Lua - D. J. Conway

Oráculo da Deusa - Amy Sophia Marashinsky

O Anuário da Grande Mãe - Mirella Fauer

A Grande Mãe - Erich Neumann

O Novo Despertar da Deusa - Shirley Nicholson

Os Mistérios Wiccanos -  Raven Grimassi

Druismo Celta - Sirona Knight

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