O Nascimento de Vênus, de Adolphe-William Bouguereau (1879)
Afrodite Urânia, de Christian Griepenkerl (1839-1916), representada com o globo terrestre na mão, como ideal dos artistas
Afrodite agachada, cópia romana de escultura helenística
Aphrodite Kallipygos, cópia romana de escultura helenística de 100 a.C.- 150 a.C. (Afrodite admira o próprio traseiro, refletido n'água)
Afrodite de Cnido, cópia romana de estátua de Praxíteles do século IV a.C.
Afrodite Anadiômene, inspirada em pintura de Apelles
Vênus Anadiômene, de Ticiano Vecellio (1488-90)
Vênus Verticórdia, de Dante Gabriel Rosseti (1864-68)
Afrodite (do grego Ἀφροδίτη, Aphroditê) é a deusa grega do amor, do prazer e da beleza, identificada pelos romanos como Vênus. Amurta, a romã, a maçã, a pomba, o pardal e o cisne são consagrados a ela.
Origem
Afrodite é uma divindade de características orientais, cujo culto foi provavelmente introduzido na Grécia pelos fenícios, a partir das suas feitorias. Uma delas estabeleceu-se na ilha de Cítera, próxima do Peloponeso. Os fenícios tiveram também uma colônia em Pafos, Chipre.
Afrodite e seu culto de origem semita parecem ter tomado, na Grécia, o lugar da deusa indo-europeia Eos, a Aurora. Ainda que tenha sido identificada com a Afrodite grega, o nome romano de Vênus parece ser etimologicamente relacionado a Eos e sua equivalente indiana, Ushas. Já o nome "Afrodite" parece derivar do nome de alguma divindade hitita relacionada à semita Istar, Astarot ou Astarte, com a qual Afrodite foi frequentemente assimilada.
Na Ilíada de Homero (750 a.C.), Afrodite é filha de Dione, deusa considerada consorte de Zeus no oráculo de Dodona. Daí, seu epíteto alternativo de Dioneia.
Já segundo a Teogonia de Hesíodo (700 a.C.), Afrodite nasceu da espuma branca das ondas, provocada pela queda no mar do esperma e dos genitais de Urano, castrado por Cronos. Essa versão parece derivar da etimologia popular que relacionou o nome da deusa com a palavra grega aphros, "espuma":
-
O pênis, tão logo cortando-o com o aço
atirou do continente no undoso mar,
aí muito boiou na planície, ao redor branca
espuma da imortal carne ejaculava-se, dela
uma virgem criou-se. Primeiro Citera divina
atingiu, depois foi à circunfluída Chipre
e saiu veneranda bela Deusa, ao redor relva
crescia sob esbeltos pés. A ela, Afrodite,
Deusa nascida de espuma e bem-coroada Citeréia
apelidam homens e Deuses, porque da espuma
criou-se e Citeréia porque tocou Citera,
Cípria porque nasceu na undosa Chipre,
e Amor-do-pênis porque saiu do pênis à luz.
Eros acompanhou-a, Desejo seguiu-a belo,
tão logo nasceu e foi para a grei dos Deuses.
Esta honra tem dês o começo e na partilha
coube-lhe entre homens e Deuses imortais
as conversas de moças, os sorrisos, os enganos,
o doce gozo, o amor e a meiguice.
Segundo a Dionisíaca de Nonnus (século V d.C.), porém, a deusa não nasceu simplesmente da espuma, mas de sua conjunção com Talassa, deusa do mar.
Com o epíteto de Anadiômene, "a que surge" das ondas do mar, de um famoso quadro do pintor grego Apeles (século IV a.C.), tão logo nasceu, a deusa foi levada pelas ondas ou pelo vento Zéfiro para Cítera e em seguida para Chipre, terras consideradas como a pátria de Afrodite e que lhe deram os epítetos de Citeréia eCípris.
Urânia e Pandemos
Uma concepção tardia dividiu Afrodite em duas deusas distintas, Afrodite Urânia, "Celestial", nascida sem mãe, do esperma de Urano; e Afrodite Pandemos, "De Todos os Povos" ou "De Todo o Povo", nascida de Zeus e Dione.
Esse conceito encontra-se pela primeira vez no século V a.C., em Platão. Para os neoplatônicos e seus intérpretes cristãos, Afrodite Urânia, ou Vênus Celestial, representa o amor espiritual, enquanto Afrodite Pandemos era associada ao amor físico. Outras concepções davam a primeira como deusa do amor lícito, matrimonial e a segunda como a do amor desregrado, principalmente com prostitutas.
A representação de Afrodite Urânia com um pé descansando em uma tartaruga foi interpretada como um emblema de discrição nos conflitos conjugais. A imagem é creditada a Fídias em uma escultura criselefantina (de ouro e marfim) feita para a cidade de Élis e notada por Pausânias. No seu culto eram proibidas oferendas e libações de vinho.
Afrodite Pandemos foi representada em Élis, por Scopas, cavalgando um carneiro. Afrodite Pandemos também era cultuada em Megalópolis, na Arcádia e e Tebas. Um festival em sua honra foi mencionado por Ateneu e a ela eram oferecidos sacrifícios de cabras brancas.
Originalmente, Afrodite Pandemos representava simplesmente a união dos povoados, os "demos", em um só corpo político, como os que formaram cidades-estados maiores como Atenas e Megalópolis. Era venerada em Atenas junto com Peito ("Persuasão") e seu culto teria sido instituído por Teseu quando unificou as comunidades da Ática. A transição para a interpretação como "Afrodite Popular", "Afrodite Vulgar" ou "Afrodite Promíscua" pode ter-se relacionado ao fato de seu santuário, que teria sido mandado construir por Sólon, estar situado na popular Ágora, a praça do mercado, ou de as hetairas terem custeado sua construção.
Símbolos
Afrodite foi, sucessivamente, representada envolta em finos véus, seminua e mais tarde totalmente nua (a partir de Escopas e de Praxíteles, século IV a.C.).
Os artistas apresentaram-na, geralmente, cercada de suas flores preferidas, a rosa e a murta, e acompanhada dos seus animais favoritos, as pombas, que ela atrelava ao seu carro. Também lhe eram consagrados os pomos em geral, incluindo a maçã, a lima e o marmelo, mas mais especificamente a romã. Era especialmente ligada às conchas (principalmente vieiras e amêijoas), que representavam os órgãos sexuais femininos. Cisnes e delfins são também frequentemente associados a essa deusa.
Afrodite costuma ser acompanhada de um cortejo de servidores e de servas que encarnam os prazeres e o encanto do mundo, das quais a mais importantes são as Cárites e as Horas. As ninfas oréadas também costumam acompanhá-la.
Sendo a ilha de Cítera sua primeira pátria e um dos centros mais tradicionais de seu culto, a expressão "viagem a Cítera" tornou-se uma metáfora usual para a paixão amorosa e para o ato sexual.
Culto
No templo de Afrodite no alto do Acrocorinto (antes da destruição da cidade pelos romanos em 146 a.C.), ter relações sexuais com suas sacerdotisas ou hieródulas era uma das maneiras de cultuar Afrodite. O mesmo costume existia em templos de Afrodite em Chipre, Cítera e na Sicília, seguindo a tradição dos cultos a Inana, Ishtar, Astarot ou Astarte dos povos da Mesopotâmia, Síria, Fenícia e Palestina.
Essas sacerdotisas entregavam-se nos templos da deusa aos visitantes com o fito, em primeiro lugar, de promover e provocar a vegetação e a fertilidade e, em segundo lugar, para arrecadar dinheiro para os próprios templos. No riquíssimo (graças às hieródulas) santuário de Afrodite no monte Érix, na Sicília, e em Corinto, nos bosques de ciprestes de um famoso Ginásio, chamado Craníon, a deusa era cercada por mais de mil hieródulas, que, à custa dos visitantes, lhe enriqueciam o santuário. Personagens principais das famosas Afrodísias de Corinto, todas as noites elas saíam às ruas em alegres cortejos e procissões rituais. Embora alguns poetas cômicos, como Aléxis e Eubulo, ambos do século IV a.C., tivessem escrito a esse respeito versos maliciosos, pedia-se às hieródulas que dirigissem as preces públicas a Afrodite também em momentos da maior gravidade, como nas invasões persas de Dario (490 a.C.) e Xerxes (480 a.C.).
Píndaro, um dos mais religiosos dos poetas gregos, celebrou com um skólion (canção convivial) um grande número de jovens hieródulas que Xenofonte de Corinto ofertou a Afrodite, em agradecimento por uma dupla vitória nos Jogos Olímpicos.
Epítetos
Os epítetos mais usados entre os gregos eram o de Afrodite Acidália, Cípria (Kypris) e Citeréia (Cytherea). O festival de Afrodite, chamado Afrodisíaca ou Afrodísia, era celebrado em toda a Grécia, mas especialmente em Atenas e Corinto.
Outros epítetos gregos comuns foram:
-
Aphrodite Akidalia: segundo Servius, derivada da fone Acidalius perto de Orcômeno, na qual Afrodite se banhava com as Cárites; outros ligam o nome com o grego άκιδες,acides, "preocupa-se".
-
Aphrodite Akraia - epíteto dado a deusa em templos situados sobre colinas.
-
Aphrodite Alitta ou Alilat - nome pelo qual, segundo Heródoto, os árabes chamavam Afrodite Urânia.
-
Aphrodite Amathousia ou Amathountia - derivada da cidade de Amathus em Chipre, um de seus centros de culto mais antigos.
-
Aphrodite Ambologêra - de anaballô e gêras "que afasta a velhice", nome de uma imagem em Esparta.
-
Aphrodite Anadyomenê - a deusa erguendo-se do mar, em alusão à sua origem e a uma famosa representação de Apeles da deusa enxugando o cabelo com suas mãos.
-
Aphrodite Antheia - o brotar, ou a amiga das flores, epíteto usado em Cnossos.
-
Aphrodite Apatouria - "a enganadora", usado em Phanagoria e outros lugares do Quersoneso Táurico, alude a um mito no qual Afrodite foi atacada por gigantes e pediu socorro a Héracles. Ele se escondeu com ela em uma caverna e, quando os gigantes aproximavam-se dela um por um, ela os entregava a Héracles para que os matasse.
-
Aphrodite Aphakitis - da cidade de Aphace na Coele-Syria, onde tinha um célebre templo e oráculo.
-
Aphrodite Apotrophia - "a expulsora", usado em Tebras, onde descrevia a deusa como expelindo o desejo dos corações dos homens depois do prazer pecaminoso. Seu culto teria sido instituído por Harmonia junto com o de Afrodite Urânia e Pandemos.
-
Aphrodite Arakynthias - derivada do monte Aracynthus, onde havia um templo de Afrodite.
-
Aphrodite Areia - a Afrodite de Ares, representada de armadura, como em Esparta.
-
Aphrodite Argennis - de Argennus, favorita de Agamêmnon, em homenagem à qual o rei construiu um santuário a Afrodite no rio Cephissus.
-
Aphroditê Hetaíra - "companheira", "amante", protetora em Atenas das hetairas propriamente ditas.
-
Aphrodite Kallipygos - "de bela bunda", venerada em Siracusa. A imagem alude a um conto segundo a qual um camponês tinha duas belas filhas que se puseram a discutir na rua sobre qual tinha o traseiro mais bonito. Um rapaz que passava, filho de um homem velho e rico, foi escolhido como juiz. Não só se pronunciou a favor da irmã mais velha, como se apaixonou por ela e acabou por levá-la para a cama e contar pra seu irmão mais novo. Este, curioso, foi para o campo, viu as duas garotas e se apaixonou pela mais nova. Quando o pai tentou fazer os dois jovens se casarem com moças da sua própria classe, não conseguiu convencê-los e acabou por aceitar que se casassem com suas camponesas. Ambas as moças foram chamadas de "calipígias" pelos cidadãos de Siracusa e, ao ficarem ricas e famosas, fundaram o templo de Afrodite e chamaram a deusa pelo mesmo epíteto.
-
Aphrodite Knidia - da cidade de Cnidus, na Cária, para a qual Praxíteles fez uma estátua célebre.
-
Aphrodite Kôlias - de uma estátua no promontório de Cólias, na Ática.
-
Aphrodite Despoina - "a déspota", epíteto usado também em relação a outras deusas, como Deméter e Perséfone.
-
Aphrodite Diônaia - a "filha de Dione".
-
Aphrodite Erykinê - derivada do monte Érix, na Sicília, que teria sido construído por Érix, filho de Afrodite e do rei Butes, ou, segundo Virgílio, por Enéias. Psófis, filha de Érix, eria construito um templo a essa Afrodite em Psófis, na Arcádia. Da Sicília, seu culto foi introduzido em Roma no início da II Guerra Púnica e em 181 a.C. foi-lhe construído um templo fora da Porta Collatina. Em Roma, representava o "amor impuro" e era a padroeira das prostitutas.
-
Aphrodite Gamêlii - como uma das divindades protetoras do casamento, a saber, Zeus, Hera, Afrodite, Peito e Ártemis e às vezes também as Moiras.
-
Aphrodite Genetyllis - como protetora dos nascimentos e às vezes como Genetile, uma divindade distinta, ou como Genaides ou Genetílides, uma classe de divindades presidindo à concepção e ao nascimento em companhia de Aphrodite Colias. O epíteto também é aplicado a Ártemis.
-
Aphrodite Hekaergê - "que atinge à distância", epíteto usado em Iulis, ilha de Cós.
-
Aphrodite Idalia - da cidade de Idálion, em Chipre.
-
Aphrodite Limenia, Limenitês, Limenitis ou Limenodkopos - "protetora do porto", epíteto também aplicado a Zeus, Ártemis e Pã.
-
Aphrodite Mêchaneus ou Mechanitis - hábil em invenções, aplicado em Megalópolis.
-
Aphrodite Melainis - "a negra", epíteto usado em Corinto.
-
Aphrodite Melinaia - derivado da cidade argiva de Meline.
-
Aphrodite Migônitis - derivado de Migonium, lugar dentro ou perto da ilha de Cranne, na Lacônia, onde havia um templo da deusa.
-
Aphrodite Morphô - "formosa", epíteto usado em Esparta à deusa representada sentada, com a cabeça coberta e os pés acorrentados.
-
Aphrodite Nikêphoros - "que traz a vitória", aplicado também a outras divindades.
-
Aphrodite Paphia - do célebre templo em Pafos, Chipre. Também havia uma estátua de Afrodite Páfia no santuário de Ino, entre Oetylus e Thalamae na Lacônia.
-
Aphrodite Peithô - "a persuasão", considerada uma divindade distinta em Sícion, em cuja ágora tinha um templo, mas epíteto de Afrodite em Atenas, onde seu culto teria sido introduzido por Teseu quando unificou a Ática. Em Atenas as estátuas de Peitho e Afrodite Pandemos estavam bem juntas e em Mégara a estátua de Peitho ficava no templo de Afrodite.
-
Syria Dea - "deusa síria", designação de Astarte.
-
Aphrodite Zephyritis - do promontório de Zefírio, no Egito.
-
Aphrodite Zêrynthia - da cidade de Zerinto na Trácia, onde seu santuário teria sido construído por Fedra.
Com o nome de Vênus, Afrodite foi particularmente querida dos romanos, que a consideravam ancestral de Enéias, de Rômulo e Remo e dos Césares e a celebravam em vários festivais. Seu culto teria começado em Ardea e Lavinium, no Lácio. Entre os epítetos de Vênus em Roma, contam-se:
-
Vênus Cloacina: fusão de Vênus com a deusa etrusca da água Cloacina, que provavelmente resultou da proeminente estátua de Vênus próxima daCloaca Máxima (sistema de esgotos de Roma) erguida no lugar onde teria sido feita a paz entre os romanos e os sabinos.
-
Vênus Felix ("Vênus Feliz") foi o epíteto usado em um templo na colina do Esquilino Hill em outro construído por Adriano e dedicado a Vênus Felix et Roma Aeterna no lado norte da Via Sacra. Esse epíteto é usado também para uma escultura específicas dos Museus do Vaticano.
-
Vênus Genetrix ("Vênus Genitora") era Vênus no papel de ancestral do povo romano, uma deusa da maternidade e domesticidade. Um festival era celebrado em sua honra em 26 de setembro. Como Vênus era considerada mãe da gens Júlia em particular, Júlio César lhe dedicou um templo em Roma.
-
Vênus Libertina era um epiteto que pode ter surgido de um erro, quando os romanos tomaram lubentina ("agradável", "apaixonante") por libertina(das escravas libertas). Um epíteto possivelmente relacionado é o de Vênus Libitina, Libentina, Libentia, Lubentina, Lubentini ou Lubentia, que provavelmente surgiu da confusão com Libitina, uma deusa funérea, com a Vênus Lubentina. Um templo foi dedicado a Vênus Libitina na colina do Esquilino.
-
Vênus Murcia ("Vênus da Murta") foi um epíteto que uniu Vênus a Murcia ou Murtia, uma divindade pouco conhecida, associada com a murta. Algumas fontes a consideram uma deusa da preguiça.
-
Vênus Obsequens ("Vênus Indulgente") era um epíteto ao qual foi dedicado um templo em 293 a.C., durante a Terceira Guerra Samnita, por Quintus Fabius Maximus Gurges. Foi construído com o dinheiro de mulheres multadas por adultério e era o mais antigo templo de Vênus em Roma. Provavelmente situava-se ao pé do monte Aventino, perto do Circus Maximus. No dia de sua dedicação, 19 de agosto, era celebrado o festival da Vinalia Rustica.
-
Vênus Verticordia ("Vênus que vira corações"), era tida como protetora contra o vício e o festival daVeneralia era celebrado em sua honra em 1º de abril. Um templo em sua honra foi dedicado em 1º de abril de 114 a.C,, seguindo instruções dos Livros Sibilinos, como expiação pela violação do voto de castidade por três virgens vestais.
-
Vênus Victrix ("Vênus Vitoriosa") era um aspecto armado de Afrodite herdado pelos gregos do Oriente, onde a deusa Ishtar nunca deixou de ser também uma deusa da guerra. Foi a essa Vênus que Pompeu dedicou um templo no topo do seu teatro no Campus Martius em 55 a.C. Havia também um santuário de Vênus Victrix no monte Capitolino, com festivais em 12 de agosto e 9 de outubro. Na arte neoclássica, esse epíteto foi usado no sentido de "Vênus vitoriosa sobre os corações dos homens" ou no contexto do Julgamento de Páris.
Outros epítetos romanos incluem Vênus Amica ("Venus Amiga"), Vênus Armata("Vênus Armada"), Vênus Caelestis ("Vênus Celeste"), e Vênus Aurea ("Vênus Dourada").
Mitos de Afrodite
Vênus e Marte, de Sandro Botticelli (1485)
Visita de Vênus a Vulcano, de François Boucher (1754)
Hefesto nasceu feio e, por isso, foi atirado do alto do Monte Olimpo aos mares por Hera, sua mãe. Foi recolhido por Tétis e Eurímone, com as quais viveu por nove anos. Já crescido, ele se vingou dela, enviando-lhe de presente um trono de adamanto. Quando Hera se sentou, correntes a prenderam habilmente e nem Zeus foi capaz de quebrá-las. Hefesto só consentiu em libertar a mãe em troca da volta ao Olimpo e da mão de Afrodite.
Ares, nas ausências de Hefesto, que tinha suas forjas no monte Etna, na Sicília, partilhava constantemente o leito de Afrodite. Fazia-o com tranquilidade, pois deixava à porta dos aposentos da deusa uma sentinela, um jovem chamado Aléctrion ("Galo"), que deveria avisá-lo da aproximação do nascer do sol. Um dia, porém, o vigia dormiu e Hélios, o Sol, que tudo vê e que não perde a hora, surpreendeu os amantes e avisou Hefesto. Este, deus que sabe atar e desatar, preparou uma rede mágica, com correntes invisíveis de adamanto e prendeu o casal ao leito. Convocou os deuses para testemunharem o adultério e estes se divertiram tanto com a picante situação que a abóbada celeste reboava com as suas gargalhadas. Após insistentes pedidos de Poseidon, o deus coxo consentiu em retirar a rede. Envergonhada, Afrodite fugiu para Chipre e Ares para a Trácia. Desses amores, nasceram Fobos ("Medo"), Deimos ("Terror") e Harmonia, que mais tarde foi esposa de Cadmo, rei de Tebas. Aléctrion foi punido sendo transformado em galo e obrigado a cantar toda madrugada, antes do nascimento do Sol.
Vulcano surpreende Vênus e Marte, de Jacopo Comin "Tintoretto" (1551)
Por ter Eos se enamorado de Ares, Afrodite, enciumada, fez a rival apaixonar-se violentamente pelo gigante Órion, a ponto de arrebatá-lo e escondê-lo, com grande desgosto dos deuses, uma vez que o gigante, como Héracles, limpava os campos e as cidades de feras e monstros.
-
Tão longo Afrodite nasceu, Zeus por ela se apaixonou e a possuiu numa longa noite de amor. Hera, enciumada com a gravidez da deusa oriental, e temendo que, se da mesma nascesse um filho com a beleza da mãe e o poder do pai, ele certamente poria em perigo a estabilidade dos imortais, deu um soco no ventre de Afrodite. O resultado foi que Priapo nasceu com um membro viril descomunal. Com medo de que seu filho e ela própria fossem ridicularizados pelos deuses, abandonou-o numa alta montanha, onde foi encontrado e criado pelos pastores (outra versão faz de Priapo filho de Afrodite com Dioniso).
-
Da união de Afrodite com Hermes, nasceu Hermafrodito, um jovem belíssimo. Salmácis, uma ninfa crinéia, apaixono-se por ele, agarrou-o quando foi banhar-se em sua fonte e pediu aos deuses que jamais a separassem dele. Desde então, Hermafrodito passou a ter uma dupla natureza.
-
Afrodite castigou Hipólito por ter-se dedicado à deusa da castidade Ártemis e desprezado seu culto. Inspirou a Fedra, madrasta de Hipólito, uma paixão incontrolável pelo enteado. Repelida por este, Fedra se matou, mas deixou uma mensagem mentirosa a Teseu, seu marido e pai de Hipólito, acusando a este último de tentar violentá-la, o que lhe explicava o suicídio. Desconhecendo a inocência do filho, Teseu expulsou-o de casa e invocou contra o filho a cólera de Poseidon. Este enviou contra Hipólito um monstro marinho que espantou os cavalos de sua biga, fazendo-o cair e ser arrastado e despedaçado.
O Julgamento de Páris, de Pieter Pauwel Rubens (1639)
-
Durante o banquete de núpcias de Tétis e de Peleu, para o qual os deuses tinham sido convidados, Éris, a Discórdia, lançou para o meio dos convivas um pomo de ouro, na qual figurava a inscrição καλλίστῃ (kallístê, "à mais bela"). Hera e Atena opuseram-se, imediatamente a Afrodite, cada uma delas reivindicando o pomo e o título. Zeus convenceu-as a remeter esta questão à apreciação de um mortal, e foi eleito como juiz o Troiano Páris, filho do rei Príamo. Hermes conduziu as três deusas junto dele, numa altura em que este vigiava os seus rebanhos no monte Ida, na Frigia. Hera fez valer a sua beleza senhorial e ofereceu a Páris o Império da Ásia; Atena, dotada de uma beleza severa, garantiu ao príncipe troiano a invencibilidade e sabedoria; Afrodite, soltando as fivelas que prendiam a sua túnica, desnudou-se e prometeu a Páris o amor da mais bela mulher do mundo. Afrodite recebeu o pomo e o troiano, em recompensa, conseguiria seduzir a bela Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau, dando início à Guerra de Tróia.
-
A beleza do troiano Anquises, "digna dos deuses", fascinou Afrodite, a ponto de ela se disfarçar na filha do rei da Frígia para amá-lo e lhe dar um filho, Enéias, que a deusa protegeu com todas as suas forças. Diomedes quase o matou em batalha, mas Afrodite o salvou. Diomedes, furioso, feriu Afrodite, que deixou cair o filho e voou para o Olimpo, queixar-se do arranhão à sua mãe Dione, enquanto Apolo envolvia Enéas em uma nuvem e o levava a Tróia, onde foi curado por Ártemis. Enéias, após a queda de Tróia, ficou responsável pela perpetuação da sua raça e da sua pátria, transferindo-as para Itália, no Lácio, onde, mais tarde, os seus descendentes fundariam e governariam Roma.
O Nascimento de Adônis, de Marcantonio Franceschini (1648-1729)
Vênus e Adônis, de Pieter Pauwel Rubens (1610)
Téias, rei da Síria, tinha uma filha, Mirra ou Esmirna que, desejando competir em beleza com a deusa do amor, foi castigada por esta com uma paixão incestuosa pelo próprio pai. Com auxílio de sua aia Hipólita, Mirra enganou Téias unindo-se com ele por doze noites consecutivas. Na última noite, o rei percebeu o engodo e perseguiu a filha com a intenção de matá-la. Mirra colocou-se sob a proteção dos deuses, que a transformaram na árvore que tem seu nome.
Em outra versão do mesmo mito, Mirra era filha de Cíniras, rei fenício de Chipre, e da rainha Cencréia. Esta ofendeu Afrodite, dizendo que a filha era mais bela que a deusa, que então despertou na rival a paixão pelo pai. Apavorada com seus próprios desejos, Mirra quis enforcar-se, mas Hipólita interveio e facilitou a satisfação do amor incestuoso. Consumado o incesto, Mirra fugiu para a floresta e foi a própria Afrodite que, compadecida com seu sofrimento, a transformou em árvore de mirra.
Meses depois, a casca da mirra começou a inchar e no décimo mês se abriu (ou, segundo outras versões, foi aberta pelo pai ou pelos dentes de um javali), nascendo Adônis. Tocada pela beleza da criança, Afrodite recolheu-a e a confiou, em segredo, a Perséfone. Esta, também encantada com o menino, negou-se a devolvê-lo à esposa de Hefesto. A querela foi arbitrada por Zeus, que estipulou que Adônis passaria um terço do ano com Perséfone, outro com Afrodite e os restantes com quem quisesse.
Mais tarde, Ares, com ciúme - ou Ártemis, ou Apolo, segundo outras versões - lançou contra Adônis um javali que o matou. Afrodite então transformou seu amor em anêmona, flor da primavera, que continuou a passar os quatro meses primaveris com Afrodite, para então fenecer e morrer. No afã de tentar salvar o amante, Afrodite pisou num espinho de rosa e seu sangue deu à flor um novo colorido.
Postagem perfeita, principalmente pra mim, que estou escrevendo um artigo sobre o livro A Vênus das Peles, de Sacher-Masoch. Muito bom mesmo.
ResponderExcluirBeijos
Que bom que ajudamos. Se quiser, dá um pulo na fonte http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Afrodite, as vezes tem algo mais que possa te ajudar. Abraços, Sofya.
ResponderExcluir