Texto: Lara Moncay
Sedna, uma das encarnações da deusa eterna do mar, é o outro dos grandes mitos esquimós, o mito sobre a superfície do mundo onde vivem. Trata-se da lenda de uma virgem que tutela as águas do mar e todos os seres que nelas vivem. Sedna ouviu da margem a doce voz de um muito atraente e desconhecido jovem, que a chamava da sua embarcação.
Sedna se afeiçoou imediatamente por ele, jogando-se ao mar, enlouquecida pelo seu encanto; mas o jovem não era real, era apenas um espírito perturbador que queria apoderar-se, através da suposta forma humana, do amor e da vontade da ingênua donzela. Ao conhecer Sedna o engano, tentou safar-se daquele espírito que ela julgava malvado, dado que tinha torcido o seu desejo de permanecer toda a sua vida sem desposar homem algum; também o pai da donzela tentou libertá-la daquela posse e lançou-se à sua procura através do mar, até dar com ela e conseguir o seu resgate; mas o raptor também lutou para prevalecer sobre a vontade de pai e filha, lançando-os no meio de um mar que se levantava tempestuoso. Tão perdido se encontrava o pai que preferiu morrer junto da sua Sedna para salvar a honra familiar, mas a filha negava-se a morrer e tratava desesperadamente de agarrar-se à barca, enquanto o pai forçava Sedna, cortando-lhe uma e outra vez os dedos da mão com que tentava aferrar-se à vida, até conseguir afundar a sua infeliz e querida Sedna, para libertá-la -com a morte- do engano daquele espírito. Desses dedos sacrificados para preservar a virgindade de Sedna contam os esquimós que nasceram as espécies marinhas que lhes forneçam a carne e a gordura para o seu alimento, a pele para o seu vestido e os tendões para armar as suas construções; também se diz que no fundo desse mar vivem para sempre pai e filha, velando pelo mar e por todos os animais que nele se multiplicam para dar vida ao seu povo.
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