(acredito que o texto seja da Rosane Volpatto)
Tente me alcançar
Toque em mim
Estou sempre ao seu alcance
Não tente imaginar como sou porque você não pode
Sou a imensidão do cosmo que ilumina o céu noturno
Estou além da compreensão humana na amplidão do meu ser
Sou um mistério que não pode ser desvendado.
O CÉU COMO ARQUÉTIPO
"Anexo a nossa consciência imediata", escreveu Carl Jung, "existe um segundo sistema psíquico, de natureza coletiva, universal e impessoal, que se revela idêntico em todos os indivíduos". Povoando esse inconsciente coletivo, afirmava, havia o que ele chamava de "arquétipos", imagens primordiais ou símbolos, impressos na psique desde o começo dos tempos e, a partir de então, transmitida à humanidade inteira.
Um desses arquétipos é o "Céu".
Segundo Freud, o nascimento é um trauma, uma grande catástrofe que empurra o ser humano à necessidade de adaptar-se e lutar para sobreviver desde o primeiro até o último instante da vida.
Como nos sonhos, os mitos e deuses nos conduzem à um regresso ao Éden, à uma aliança com o cosmo e a energia que o configura. Estes deuses são a imagem arquetípica da alegria e felicidade, que nos fazem esquecer a nossa condição material, de miséria e de sofrimento. Nos fazem regressar à condição original, recuperando o paraíso perdido, a mãe e a imortalidade. O cosmo e o céu estrelado nos remetem a tal estado de espírito. Subir ao céu, representa não tão somente, escapar das misérias terrestres, mas também nos faz escapar das preocupações presentes e nos torna um pouco "deuses". É exatamente por isso, que o céu é a maior recompensa prometida por quase todas as religiões.
Os homens nunca mediram esforços para alcançar o céu, pois para eles vencer a gravidade é vencer a morte. Esta é causa de sermos seres terrestres tão aéreos. Escalamos montanhas, já alcançamos à Lua (hoje nos dirigimos à Marte), desbravamos os céus todos os dias, buscando sempre uma aproximação maior com nossos deuses.
No mundo imaginário, o céu é a pátria das almas, em oposição à terra, que é o pátria dos corpos. Por isso é frequente o uso do ditado: "Tenha os pés no chão". objetivando a praticidade e o sentido agudo de realidade. Ou então se diz: "Está com a cabeça nas Nuvens", padrão de comportamento que corresponde àquelas pessoas sonhadoras e descuidadas, que preferem o mundo ilusório ao real.
Todos nós temos no nosso interior o "céu"e a "terra". Nesta perfeita união visualizamos claramente o casamento do masculino com o feminino. No Antigo Egito, a Abóbada Celeste era a Deusa Nut, representada por um corpo feminino arquejado sobre a terra. E é justamente esta deusa o objetivo do nosso estudo, aqui e agora.
A CRIAÇÃO
O Egito é um oásis entre pedras e areias, é o sonho de todo o viajante. Desde a antiguidade até nossos dias, peregrinos, curiosos e aventureiros caminham sobre suas areias douradas e quentes, sem jamais terem decifrado todos os seus mistérios.
Historicamente o homem tem realizado representações associadas a milhares de divindades que povoam os quatro rincões do planeta. Algumas delas nascem de um sentimento chamado "esperança", outras do "tcmor" do homem ao invisível. Um aspecto característico da mentalidade das primeiras culturas humanas, era fazer associações com os fenômenos naturais, tipo Sol, Lua, Vento, Raio à divindades, pois, muitos deles, aos olhos dos homens, eram totalmente inexplicáveis.
Segundo a gênese egípcia, o mundo primordial era constituído de Água e Caos. Sobre as águas dançava um botão de lótus que ao se abrir libertou Rã, o deus do Sol. Ele chegou para iluminar o Caos inicial e originou seus dois filhos divinos: SHU, o deus do Ar e TEFNET, a deusa da Umidade. Deles nasceram GEB, deus da Terra e NUT, deusa do Céu Noturno, também conhecida como Grande Profundeza, a Abóbada Celestial, que faz nascer o Sol todas as manhãs, para depois devorá-lo à noite.
Geb e Nut se amaram e permaneceram por longo tempo abraçados. O céu e a terra estavam tão juntos, que não havia espaço para nada crescer ou viver entre eles. Desaprovando o incesto cometido por estes deuses, Rã, ou Sol, ou Deus Supremo, ordenou que Shu, pai deles os separassem. O poderoso deus do Ar, pisou sobre Geb e com as mãos suspendeu Nut acima de seu irmão. Geb debatia-se entre os pés do pai, enquanto que Nut balançava sobre ele, mas não conseguiam chegar a se alcançar.
A deusa ficou tão brava com seu pai, que ele acabou amaldiçoando-a, para que em nenhum dia dos 360 dias do ano, pudesse dar à luz. Foi ajudada então, pelo deus Thot, que em um jogo com a Lua, ganhou-lhe a sétima parte de cada uma das suas luminárias. Juntando essas partes, que formavam ao todo cinco dias, acrescentou-as aos trezentos e sessenta dias do ano. Dessa forma Nut pode gerar filhos. No primeiro dia nasceu Osíris; no segundo Hórus (o velho); no terceiro Seth; no quarto Íris; e no quinto dia, Néftis. Seth casou-se com Néftis e Osíris com Ísis.
Nut também é a deusa que recebe as múmias, cuidando de seu corpo até a ressurreição, por isso era pintada dentro da tampa interior dos sarcófagos.
REPRESENTAÇÃO NOS DIVERSOS PLANOS
O Plano Espiritual é invadido pelo corpo da deusa, simbolizando a proximidade do eu com o inconsciente.
No Plano Mental, a deusa Nut, é a deusa do céu. Mulher de Geb e mãe de Osíris, Seth e Néftis. Na posição, como se estivesse sobre o marido, dá proteção ao jovem Akenaton que percebendo sua cegueira em relação á sua própria vida vai em busca do contato com seus antepassados e seu mestre interior - Aton, para a solução das sua dúvidas existenciais.
No Plano Material, um escorpião voltado para o Mundo dos Mortos, representando a busca do saber adquirido.
O ABRAÇO DE NUT
Nut se expande nas nossas vidas para lembrar-nos que devemos estar abertos ao mistério. Ela declara que o caminho para totalidade agora está em confiar que o mistério que você compreendeu será exatamente o que você precisa para sua jornada rumo à totalidade.
RITUAL
E hora da nossa viagem em busca da nossa Nut interior. Para tanto, reserve um lugar ao ar livre em que você possa se sentir segura e sozinha(o), sem ser incomodada(o), à noite, é claro! Procure sentar-se ou deita-se e feche os olhos. Respire fundo e solte o ar rapidamente. Inspire outra vez e solte o ar bem devagar. Repita por 3 vezes este procedimento. Comece então a visualizar, sentir e perceber a imensidão do corpo de Nut no céu noturno acima de você. Veja-a curvada sobre você.
Ela estará sorrindo e estenderá sua mão, convidando-a(o) para se aproximar. Ela lhe apontará o caminho das estrelas para você seguir, siga-o então. Ela lhe estenderá os braços e você caminha para receber o seu abraço. Sinta o calor do seu abraço e compreenda assim o mistério de Nut. Ela a(o) convidará para abrir seu coração e confiar nela. Compartilhe com ela todos seus segredos e problemas e peça sua orientação.
Você vivenciará uma profunda sensação de unidade com o desconhecido. Neste momento se sentirá tranquila (o), segura (a), compreendida (o) e ficará abraçada (o) à ela até se sentir pronta (o) para voltar. Você deve, depois, agradecer a Nut e lhe dirá que é hora de retornar. Ela lhe ajudará a percorrer o caminho das estrelas de volta ao seu corpo. Respire fundo e quando estiver pronta abra os olhos.
O PORQUE DO ESTUDO DAS DEUSAS
A negligência do aspecto interior tem levado, particularmente as mulheres, a certa falsificação de seus valores existenciais. Hoje em dia, o sucesso ou o fracasso da vida de uma mulher não é mais julgado como antigamente pelo critério exclusivo do casamento. À sua adaptação à vida agora, pode ser feita de diversas maneiras, cada uma das quais, oferecendo alguma oportunidade para resolver problemas, sejam de trabalho, de relações sociais ou necessidades emocionais.
O maior problema, observado em nossos dias é que no mundo ocidental se dá ênfase especial à valores externos e isso tem ajusta medida à natureza do homem e não da mulher. O espírito feminino é mais subjetivo, mais relacionado com sentimentos do que com leis ou princípios externos, o que acaba regando conflitos. E a resultante destes conflitos é usualmente mais devastadora para as mulheres do que para os homens.
O despertar das deusas interiores, se faz importante, particularmente para as mulheres, mas não esqueçam os homem que este caráter feminino também lhes é peculiar (anima). A maior razão da seriedade deste tema, refere-se ao recente desenvolvimento do lado masculino da mulher (animus), que tem sido uma característica marcante nestes últimos anos. Este desenvolvimento masculino, está associado às exigências do mundo dos negócios e é até considerado pré-requisito para se ganhar a vida neste mercado tão competitivo. Mas esta mudança, de carácter benéfico na vida profissional das mulheres têm causado alterações profundas na sua relação consigo mesma e com os outros. Este conflito interno estabelecido entre a necessidade de expressa-se através do trabalho como o homem faz e a necessidade interior de viver de acordo com a sua natureza feminina, entraram em "xeque-mate".
Se as mulheres (homens também) pretendem ter contato com seu lado feminino perdido, precisa escolher um caminho que as fará despertar estas deusas adormecidas. Estes mitos e rituais de religiões antigas representam a projeção ingênua de realidades psicológicas. Não são deturpadas pela racionalização, porque em assuntos ligados ao reino do espírito, os povos primitivos e da antiguidade não pensavam, eles somente percebiam, sentiam e intuíam, como de fato ainda fazemos hoje. Consequentemente, estes produtos do inconsciente contêm um material psicológico dos mais puros e que pode ser reunido como formas de conhecimento acerca da realidade subjacente à vida do grupo, tornando-se assim, acessíveis a nós. Pois saibam todos, que quer queiram o não, nós somos geneticamente iguaizinhos aos nossos antepassados.
Jung já no demonstrou que deuses e rituais representavam a fantasia do grupo e que esse material é interpretado psicologicamente por um método similar ao empregado no estudo dos produtos inconscientes de homens e mulheres a nível individual. E o que se constata, através da história é que mitos e rituais se equivalem até em detalhes em culturas de povos bastante separados, nos levando a concluir, que temas psicológicos gerais são verdadeiros para humanidade como um todo. E, de fato, hoje em dia os sonhos e fantasias das pessoas mostram um caráter generalizado similar, lembrando mitos antigos e primitivos Essa semelhança entre o sonho e algum mito antigo pode ocorrer em casos onde não há nenhum conhecimento da existência de tal mito, de maneira que o sonho não pode ser explicado como "empréstimo".
É, com certeza, uma criação espontânea do inconsciente, proveniente da carga hereditária contida naquela célula que é geneticamente igual à daquele nosso antigo ancestral, que nem sequer temos conhecimento de sua existência. Deu para entender? Pois é, mais uma vez, a pedra que os construtores humanos tentam continuamente rejeitar, está se tornando a pedra angular. Tirem suas próprias conclusões, pois eu já tenho a minha opinião formada, graças as minhas DEUSAS!
Que assim seja e assim será!
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