O confucionismo em sua origem não é uma religião e sim uma doutrina filosófica que visa restabelecer a ordem social e resgatar os valores sínicos. Portanto, a primeira característica dessa doutrina é o tradicionalismo de seus ensinamentos, onde estabelece as normais morais reguladoras do procedimento do indivíduo e de suas relações pessoais e públicas.
O próprio filósofo acentuou seu apego ao passado quando disse:
“Transmito os ensinamentos antigos, nada invento de novo, apego-me à antiguidade com confiança e afeição”.[1]
É uma filosofia positivista. Os preceitos e advertências de Confúcio são fontes preciosas em que se renovam as antigas virtudes da alma chinesa. Cortesia, piedade filial e virtudes como a benevolência, retidão, lealdade e a integridade de caráter são as bases do confucionismo que permaneceu como religião oficial da China desde sua unificação, na dinastia dos Han, até a sua proclamação como República em 1911.
Confúcio compilou, editou e escreveu diversas obras. Sua biografia pode ser encontrada em três livros clássicos, sendo as três últimas elaboradas por seus discípulos:
- Chun-Chiu (Anais das Primaveras e Outonos) – história da China, principalmente sobre o ducado de Lu, sua terra natal;
- Lun Yu (Anacletos) – Coleção de máximas de Confúcio e seus princípios éticos;
- Ta Hsio (grande aprendizado) – ensinamentos sobre a virtude;
- Chung Tung (Doutrina do meio) – ensinamentos sobre a moderação perfeita;
- Meng Tze (Mêncio) – Obra do grande expositor e discípulo de Confúcio.
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[1] Franca, S. J., Leonel. Noções da História da Filosofia. 13ª Edição. Revista Agir, Rio de Janeiro 1952.
Confusio
Confúcio ou K’ung Ch’u (Mestre Kong) nasceu nos meados do século VI a.C. (551 a 479), em uma pequena cidade no ducado de Lu, atual Chantong. É o filho mais novo de 12 irmãos, ficando órfão aos três anos de idade. Seu pai foi um magistrado e um guerreiro de certo destaque.
Filósofo e dedicado ao ensino, viveu na época das guerras feudais, onde o valor de soldado era medido pelo número de cabeças inimigas que carregava consigo. Populações inteiras foram dizimadas através da decapitação de mulheres, crianças e velhos.
Aos 30 anos deixa o ducado de Lu e parte com o Duque Chao para a província de Ch’i. Aos 50 anos ocupa cargos políticos, sendo nomeado o Grande Oficial da Justiça. Aos 55 anos parte para uma longa viagem aos estados vizinhos, onde pretende colocar suas idéias de unificação e a visão do estado como bem público. Apesar de ser recebido como um Erudito, não obteve sucesso em sua jornada.
Regressa aos 68 anos e continua dedicando-se ao ensino de um grupo de discípulos, chegando a ter em sua escola 3000 alunos. Desse grande grupo 72 eram considerados seus discípulos mais eruditos. A meta era transformá-los em Jens, seres humanos perfeitos.
Após sua morte seus discípulos o lamentaram por três anos, sendo que um deles permaneceu junto à sua sepultura por seis anos.
Filosofia de Confúcio
Confúcio considerava a natureza humana originalmente boa, porém essa disposição natural pode ser corrompida pelas paixões que o homem desenvolver durante sua vida. Para que isso não aconteça é necessário o completo domínio sobre si mesmo, sendo esse o meio essencial para o aperfeiçoamento pessoal.
Levando em consideração os dons naturais de cada um, Confúcio dividia o homem em quatro classes: os homens superiores – aqueles em que o conhecimento dos princípios da sabedoria é inato; aqueles que adquirem esse conhecimento através do estudo; os que possuem pouca inteligência, mas que procuram adquirir o conhecimento e aqueles que não possuem nenhuma inteligência nem o desejo de aprender.
O homem perfeito respeita três coisas: a vontade do céu (princípio de ordem natural); os homens eminentes em virtudes e em dignidade, as máximas dos sábios. O homem vulgar não conhece a lei natural e não a respeita, trata sem respeito os homens eminentes, zomba das máximas dos sábios.
O homem é naturalmente sociável e tem o dever de viver em sociedade, esforçando-se para levá-la a ordem. A harmonia dessa vida social é obtida através do “justo meio”. Atingir esse ideal requer muita perseverança e vigilância, sendo poucos os que conseguem manter-se nesse caminho.
A piedade filial e o respeito aos antepassados são consideradas a fonte de todas as virtudes, dela procede toda a disciplina e toda a instrução:
“Durante a vida de seus pais, o filho deve cumprir os deveres que lhe são devidos, segundo os princípios da razão. Quando morrem, devem enterrá-los segundo as cerimônias prescritas pelos ritos e fazer-lhes em seguida as oferendas igualmente conforme os ritos".[1]
Através da comparação com a piedade filial devem ser concebidos todos os outros deveres, como o dever do caçula com os irmãos mais velhos, a esposa para com o marido, do súdito para com o soberano.
Sobre o Estado Confúcio afirma que o governo é aquilo que é justo, governar é retificar o povo, sendo o governante ideal aquele que cumpre bem os seus deveres e conduz os homens à prática da virtude e à perfeição do espírito de tal maneira que haja uma harmonia perfeita. Se o súdito deve se comparar a um filho o soberano deve ser o pai, assegurando a seu povo a paz, o bem estar e a instrução.
Em suas máximas afirmava que é necessário fazer bem pelo bem e a justiça pela justiça, não fazendo ao outro o que não quer para si mesmo.
É necessário que o homem domine a si mesmo, e controle suas paixões, excluindo de sua vida toda e qualquer preocupação egoísta e mesquinha, como a vaidade e os interesses materiais. É preciso ganhar dinheiro para se viver, mas não viver para ganhar dinheiro.
É necessário que o homem honrado ame seus semelhantes, devendo ser benevolente com todos igualmente, ou seja, uma benevolência universal. O humanismo.
Dois de seus discípulos destacam-se como continuadores do confucionismo:
Mencius (Meng-Tse) viveu em 372 a 289 a.C., um homem de grande espírito político que se empenhou em defender a doutrina de seu mestre contra os filósofos contemporâneos. Acreditava que a manutenção da paz era responsabilidade do soberano e garantir o futuro das crianças fornecendo a elas condições e meios seguros de existência.
Sun-Tse, que viveu entre 330 e 2365 a.C, reivindicou para a Escola de Ju (escola de Confúcio) o título de única possuidora da verdade e única capaz de dar remédio aos males da sociedade.
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[1] Granet, Marcel. A civilização chinesa. 1952.
Crenças e Práticas do Confucionismo
Culto ao Supremo Governador
Esse culto era conduzido pelos imperadores e por aqueles que ocupavam os mais altos postos chineses. O poder de governar o pais era dado pelo Céu, o Supremo Governador, e a ele deviam render culto.
Os cultos eram realizados no Templo do Céu na cidade de Pequim, no solstício de inverno (hemisfério norte – 22 de dezembro), onde ofereciam novilhos, vinho e alimento, como cereais e pães. Os cultos eram acompanhados de procissões, música e luzes. Esse tempo possui o maior altar da história da humanidade.
Ao norte de Pequim, no parque Ditan existe o Templo da Terra, onde são feitas entregas de flores e alimentos no equinócio de primavera (hemisfério norte - 21 de março), porém com menor importância que o Templo do Céu
(altar do Templo da Terra)
Culto aos antepassados
Para os chineses o homem é composto de duas almas em cada ser humano. A alma material e uma alma espiritual. Os textos quanto ao destino dessas almas são contraditórios. Alguns afirmam que a alma material é o princípio da vida embrionária e que na morte fica junto ao seu corpo físico, outros falam que viviam em um mundo subterrâneo próprio aos mortos. Quanto a alma espiritual, essa só apareceria depois do nascimento e depois da morte permaneceria no templo dos antepassados enquanto outros textos afirmam que estariam junto ao Governante do Céu.
Acredita-se que o morto pode influenciar a vida das pessoas vivas. Essa influência é proporcional ao poder e destaque que o morto possuía em vida, sendo responsabilidade dos familiares vivos garantirem aos mortos uma vida pós-morte igual a que tinham enquanto vivo. Para tanto, objetos pessoais, vasos com alimentos e flores acompanhavam o cadáver junto a sepultura.
Os familiares devem honrar a memória dos seus antepassados, cultuando-os através da oferta de alimentos, bebidas e animais. Alguns historiadores chegam a mencionar sacrifícios humanos, tanto de servos e escravos que seriam enterrados junto ao morto, quanto a prisioneiros de guerra oferecidos nos rituais de culto aos mortos.
Confúcio em seus ensinamentos, no entanto, nada falava sobre a vida pós-morte alegando que se o homem não conhecia a vida, como poderia ele conhecer a morte. Mencionava em seus ensinamentos o culto e honra aos antepassados segundo os rituais sínicos, e apenas isso.
Texto: Lara Moncay
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