(autoria desconhecida)
Não se pode precisar em que momento teve início o Hinduísmo. Enquanto os filósofos e sacerdotes brâmanes discutiam a origem do Universo e suas causas, foi se institucionalizando o hinduísmo, como prática publica de adorações e veneração aos deuses. Sendo tanto o Bramanismo quanto o Hinduísmo remanescente da cultura pré-védica e do vedismo.
Segundo, Fàlicen Challaye, em seu livro, Pequena história das grandes religiões, os Brâmanes exerciam uma pesada dominação sobre a sociedade e ao verem seu domínio ameaçado com o advento do Jainismo e do Budismo, no século VI a.C. veem-se obrigados a aproximar o Bramanismo, enquanto essência, às crenças populares, surgindo dessa maneira uma mistura de altas doutrinas tradicionais com superstições populares.
Os textos sagrados do hinduísmo incluem os já mencionados do bramanismo e os Puranas (antiguidades que relatam lendas e epopeias como do Mahâbârata e Râmayana, esses textos sofrem diversas modificações com o tempo, datando entre os séculos III e II a.C. e o século XIII da era cristã).
Nesse mosaico de ideias surgem inclinações que podem ser confundidas como monoteístas que oscilam em regiões e épocas da Índia. O hinduísmo possui muitos ramos, divisões e seitas. Mas há um grupo de três destas seitas ou derivações que são a base de todas as outras.
A transmigração das almas é o tema central, e os ritos funerários continuam sendo a incinerações dos cadáveres com as cinzas lançadas no rio Ganges. Esses ritos funerários são importantes porque se acredita que podem ajudar o morto a conseguir uma vida futura melhor.
(banho sagrado no rio ganges)
Principais seitas e doutrinas:
As três principais doutrinas/seitas são Vaishnavismo, Shivaismo e Smartismo.
Vaishnavismo
É a doutrina do culto à Vishnu e suas encarnações ou avatares, como Krishna e Rama. A meta principal dos vishnavas, a libertação, é alcançada quando o ser individual uniu-se a Vishnu, como parte dele, apesar de manter a sua personalidade individual. O senhor Vishnu, consciência todo-penetrante, é a alma do universo, distinto do mundo e dos Jivas (almas individuais encarnadas), as quais constituem seu corpo. Seus adeptos comunicam-se com a divindade e recebem dele a graça através da Bhakti-Yoga.
A Escola devocional Bhakti tem seu nome derivado do termo Hindu que evoca a ideia de “amor prazeroso, abnegado e estupefante da divindade”. A filosofia de Bhakti procura o usufruto pleno da divindade universal através da forma pessoal. Vista como uma forma de Yoga preconiza a necessidade de se dissolver o ego na divindade, pois a consciência do corpo e a mente limitada são fatores contrários à realização espiritual. Essencialmente é a divindade que promove toda mudança, sendo a fonte de todos os trabalhos.
A mais popular forma de expressão de amor à divindade é através da puja, ou ritual de devoção, frequentemente utilizando o auxílio de murti (estátua), juntamente com cânticos e recitações de mantras.
Esse sistema de devoção tenta auxiliar o indivíduo a conectar-se com a divindade através de meios simbólicos criando uma conexão crescente. À medida que a divindade vai sendo internalizada e refletida na vida diária do discípulo, menos ele precisará de imagens e formas externas como meio de conexão.
Na Bengala do século XVI a doutrina Vaishnava obteve uma grande contribuição através do Sri Chaitanya Mahaprabhu, filósofo, reformista social e religioso, que produziu uma revolução espiritual conhecida como Sankirtan, o canto congregacional dos Santos Nomes do Senhor Supremo, especialmente o Maha-mantra (mantra supremo): Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.
O ocidente entrou em contato com essa doutrina através do guru Vaishnava, Bhaktivedanta Swami Prabhupada que apresentou, por todo mundo, o “Bagavad-gita como ele é”, bem como outras obras hindus que foram traduzidas e publicadas em mais de 120 línguas, divulgando, desta mesma forma, o Maha-Mantra.
Shivaismo
A meta principal do Shivaismo é a realização de uma unidade pessoal com Shiva, que pode ser alcançada nessa vida, postergando a libertação final (Moksha) para a próxima vida. Através dessa união com a supraconsciência do deus Shiva permite que a perfeita verdade, conhecimento e bem aventurança sejam conhecidas. Para os shivaístas a realização está dividida em quatro estágios progressivos, de crenças e práticas. A alma se desenvolve através do karma e da reencarnação, da esfera instinto intelectual, dentro de uma vida virtuosa e moral, indo ao templo para adorar e devocionar, seguida pela adoração internalizada ou yoga (união) e disciplina meditativa. A união com Shiva advém através da graça do Satguru (mestre espiritual) e culmina no estado de maturidade da alma ou Jnãna (sabedoria). O Shivaismo valoriza tanto o Bhakti-Yoga como o Sadhana ou práticas contemplativas.
Smartismo
A meta dos smartas é moksha (libertação do sansara) realizando a unidade com Brahman, o Absoluto. Para isso deve superar o estado de Avidya (ignorância), que dá a aparência ao mundo como se fosse real. Toda a ilusão desaparece para o ser realizado ainda que viva a vida no corpo físico. Na morte, tanto seu ser interior como o seu corpo físico são extintos. Apenas existe o Braman. O caminho de Moksha é possível apenas através da Jnãna-Yoga, ou seja, pelo caminho intelectual e meditativo. Os estágios progressivos desse caminho incluem o estudo das escrituras, reflexões e meditações. Guiados por um guru realizado e declarando a irrealidade do mundo, o iniciado medita em si mesmo como Braman, para quebrar a ilusão ou Maya. Os devotos devem, também, escolher um dos três caminhos para cultivar a devoção, acumular um bom Karma e purificar a mente: bhakti-yoga, karma-yoga e raja-yoga, os quais conduzem a iluminação.
Filosofia do Hinduísmo
Os quatro pilares da vida material:
Seguindo os princípios do Hinduismo, os quatro pilares da vida material são: Artha, Kama, Dharma e Moksha. Os três primeiros aspectos são chamados de Trivarga (três caminhos), referem-se às ocupações mundanas propriamente ditas e possuem uma filosofia particular. Artha diz respeito à aquisição da riqueza, prosperidade e progresso material em geral, bem como tudo o que diz respeito ao seu desenvolvimento e aplicabilidade. Kama refere-se ao gozo dos sentidos, o prazer e a gratificação dos sentidos; Dharma diz respeito à retidão ética, aos ideais religiosos, e Moksha diz respeito à liberação da roda de nascimentos e mortes chamada de Samsara.
Os três sofrimentos inevitáveis:
A vida do indivíduo deve ser levada de forma equilibrada, a fim de que se possa usufruí-la com o mínimo possível de sofrimento; uma vez que é praticamente impossível a entidade viva ficar sem nenhum sofrimento no mundo material, porque toda a entidade viva está sujeita a três tipos de sofrimentos inevitáveis no mundo material, chamados de Duhka-traya, (três sofrimentos), a saber:
1 - adhiatmika; sofrimentos ou contingências ocasionadas pelo próprio corpo, inclusive os aspectos psicológicos e mentais; doença, velhice, e morte, etc.;
2 – adhibhautika; sofrimento que é ocasionado pelos outros seres, incluindo nossos semelhantes, feras selvagens, répteis, insetos, micróbios, etc., e, por fim,
3 – adhidaivika; sofrimentos ocasionados pela natureza. Isso inclui o clima, as tempestades, as influências planetárias, e todos aspectos fenomênicos da natureza.Uma vez compreendidas as três inevitáveis contingências no mundo material, os sábios ditaram textos para que as pessoas pudessem aliviar estes três sofrimentos.
Uma vez compreendidos os pilares e sofrimentos do mundo material, os sábios elaboraram alguns textos que norteiam as práticas e posturas dos praticantes religiosos chamados shastras. Estes textos possuem um sentimento ou Siddhanta comum que é a liberação, uma vez que na filosofia dos Vedas esta é a meta última de toda a entidade viva e inteligente como a humana.
Principais Shastras:
Artha: Kautiliya,Vriddha e Chanakya;
Kama: Kama-sutra, alguns Tantras;
Dharma: Manushmriti, Yajñavalkya e Parashara;
Moksha: Ithihasas (Bhagavad-gita; Mahabharata, Ramayana, etc), Puranas, Ágamas e Darshanas.
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