Texto: Lara Moncay
Grecia Antiga
Entre o III e o I milênio a.C. houve em Creta e depois no Peloponeso, grandes civilizações que se chama Egéa, depois Minossense e depois ainda, Micênica.
Pelo ano 3.000 a.C. os egeus haviam fundado em Creta um império que pelo auge de sua grande extensão foi chamada pelo nome de seu maior soberano, o lendário Minos. Sob a direção desse monarca, Agamenon e os aqueus, apoderaram-se de Tróia por volta de 1.180, após um demorado sítio e destruíram o império hitita. Mas, por sua vez, foram vítimas de invasões. Em 1100, outros indo-europeus, vindo do norte, dos quais os mais enérgicos eram os dórios, rechaçaram os aqueus da Ática e das ilhas. Os invasores não apenas reconhecem a superioridade da civilização invadida, como também assimilam suas crenças e costumes.
Grécia e sua Religião
Não se pode estudar a religião da Grécia e utilizar o livro sagrado porque este jamais existiu, até porque, jamais houve dogmas impostos.
As principais fontes são as obras de literatura grega, particularmente Ilíada e a Odisseia de Homero ou de autores apontados com esse nome e os poemas de Hesíodo que datam entre o século IX ou VIII a.C.. São fontes também os documentos materiais e psicológicos descobertos no curso de magníficas escavações feitas pelo alemão Schlieman (1822-1890) em Tróia, Micenas e Tirinto, pelo inglês Evans em Knossos e Creta e pela Escola Francesa de Atenas.
Estas descobertas permitiram desfazer dois graves erros a respeito da religião da Grécia. Os gregos da época clássica tinham admitido e feito crer aos historiadores, que, nos tempos primitivos, os invasores indo-europeus haviam levado a religião a populações então selvagens. Sabe-se hoje, no entanto, o quando essas populações conquistadas eram superiores aos conquistadores.
Por outro lado, acreditou-se que os deuses antropomorfizados de Homero e dos escritores gregos, estariam no centro da vida religiosa helênica. Sabe-se, atualmente, que ao lado dessa religião oficial houve outra, popular, muito mais viva e também uma corrente mística, ainda mais profunda.
A Religião Popular na Grécia
A religião popular grega parece haver sofrido profunda influência de um Totemismo primitivo. Havia nela vegetais sagrados, como, por exemplo, o carvalho de Dodona, que dizia oráculos e animais sagrados como o touro de Minos, o Minotauro. Muitos clãs gregos, tornados povos, usavam nomes de animais como os mirmidões (formigas) e os arcádios (ursos).
O sacrifício do animal sagrado e a absorção de sua carne em uma espécie de comunhão estão na origem de certos rituais como, por exemplo, em Atenas, o sacrifício anual de um boi divino, numa cerimônia chamada bouphoni.
Na origem, os egeus e os aqueus acreditavam numa força divina impessoal, comparável ao mana dos primitivos. Esta força encontra-se particularmente em certas pedras sagradas, supostamente caídas do céu, como o omphalos de Delphos, umbigo do mundo, assim como em algumas pedras talhadas e levantadas, como as encontradas em Knossos e que mais tarde, tornaram-se Hermes. Em Eleusis, a sacerdotisa abana o neófito para libertá-los de suas faltas e para introduzir nele, manas.
A natureza é animada por espíritos, tanto humanos como animais, assim uma fonte pode tornar-se um cavalo.
As almas dos mortos são representadas sob a forma de serpentes, de pássaros, sobretudo mariposas – a palavra psiche, designa tanto mariposa quanto alma. Os gregos eram controversos sobre a vida futura dos mortos. Ora eles continuavam debaixo da terra levando uma vida que seus descendentes devem propiciar por suas oferendas, e torná-la agradável, ora a alma, deixando o corpo, atravessa o Estígio e vai aos infernos, onde é julgada por Minos, Eaco e Radamante, se merece castigo sofre-o no tártaro, se tem direto à recompensas, será feliz nos Campos-Elíseos.
Minos, Eaco e Radamante
Uma parte essencial do culto são os ritos miméticos. Em Creta, os curetas batem nos seus escudos a fim de imitar o barulho do trovão e provocar a chuva. Em Creta e em Delos, Ariana dirige as danças complicadas através do labirinto, imitando a marcha do sol pelo mundo das estrelas, auxiliando-o dessa maneira a cumprir bem sua trajetória.
Na Grécia, a escultura, a dança, a poesia, o teatro, todas as diversas formas de arte, tiveram sua origem na magia.
O Sacerdócio Grego
Desde a época de Homero, há sacerdotes agregados aos templos; são os ministros dos deuses a quem servem e que os protegem. Não recebem instruções especiais, aprendem o ritual através da prática. Não são agrupados em comunidade, nem formam um clero. Seu cargo ora se transmite por hereditariedade, ora provém de eleição ou mesmo da escolha pela sorte.
Os sacerdotes presidem os sacrifícios destinados a tornar os deuses favoráveis. Purificam os fiéis, espargindo água salgado, água do mar, sobretudo envolvendo-os em fumaça, fazendo soar o sino que afugenta os maus espíritos. Realizam curas através da sugestão e de medicamentos naturais.
Os sacerdotes ocuparam-se também da adivinhação. O mais célebre os oráculos foi o de Delfos, onde a pitonisa (sacerdotisa de transe advinhatório) era purificada pela água lustral e mastigava folhas de louro, aspirava a fumaça dessa folha e em transe pronunciava as palavras que eram interpretadas pelos sacerdotes.
Em honra aos deuses celebravam grandes festas, como por exemplo, em Atenas as Panatatéias ou Pã-helênicas, como as olímpicas.
No encantador quadro do Olimpo glorificava-se Zeus em seu templo e próximo a este. Praticavam-se jogos destinados a descobrir os mais fortes ou mais hábeis. Ao mesmo tempo realizavam-se representações artísticas e musicais, conferências filosóficas e exposições de obras de arte.
As Divindades e suas Sucessões
Em Creta e na Grécia, as deusas precederam os deuses.
A mais antiga das divindades foi a Terra-Mãe, Gê, deusa da fecundidade, que dá nascimento às plantas, os animais e os homens para absorvê-los a seguir.
É a Terra-Mãe que encontramos, sob diversas formas, em todas as outras deusas: em Gaia, como mãe dos deuses olímpicos, em Ártemis adorada em seu famoso templo de Êfeso, em Afrodite, a deusa do amor da beleza e das flores, dentre outras.
Os deuses fizeram sua aparição após as deusas. Foram trazidos pelos invasores indo-europeus, guerreiros nômades, cujo chefe devia ser venerado como um ser divino antes de ser considerado descendente de um deus. Em todo caso, cada tribo tinha seu deus, que a conduzia à vitória. O triunfo dos conquistadores os permitiu substituir a sociedade matriarcal dos grupos pré-helênicos por uma sociedade patriarcal em que o pai tinha todos os direitos.
Antes do período da soberania guerreira, houve um período de “soberania mágico-religiosa”, durante a qual o grande deus teria sido Uranos, o Céu, que por processos mágicos imobiliza seus adversários, os Ciclopes.
Ao tempo de soberania guerreira, o grande deus é, primeiro Cronos, o tempo, que destrona seu pai Uranos e que é por sua vez foi destronado por seu filho Zeus, após uma grande luta em que os Olímpicos vencem os titãs.
Zeus, o grande deus tessálico, deus dos povos aqueus, torna-se o deus supremo. Escolhe para sua residência, além do Olimpo, outros montes, como o Ida de Creta e o Ida de Bitínia. Entretanto, acima do próprio Zeus, ergue-se um Poder contra o qual ele nada pode fazer: o Destino, as Moiras.
Moiras
Em torno de Zeus encontram-se as divindades que eram, na origem, deuses locais, cada qual considerado por sua tribo ou por seu povo como tendo poder sobre o céu, sobre os astros, sobre o mar, a terra e sobre os humanos. Depois esses deuses locais ultrapassaram os limites de sua região primitiva e, ao mesmo tempo, especializam-se, repartindo entre si as atividades divinas. São esses deuses que Homero apresenta inteiramente antropomorfizados: Poseidon, o deus do mar; Apolo, o deus do sol e da luz; Dionísio, o deus do vinho, Hermes o deus do comércio e da eloquência e assim por diante.
O Misticismo Grego
Sob a influência ou simplesmente por causa das felizes disposições do espírito grego - animado de independência intelectual, de racional harmonia e de beleza serena – os Helenos, homens livres de cidades livres, pensam livremente o que quiserem em matéria religiosa. Não há nem livros sagrados, nem dogmas impostos, nem autoridade de um clero e nem intolerantes apelos à força.
No entanto, a mais profunda vida religiosa da Grécia antiga teve por centro os mistérios. Trata-se de aproximar o homem, na medida do possível, da perfeição divina para, finalmente, permitir-lhe absorver a substância sobre-humana da qual são feitos os deuses ou, ainda, de absorver-se, de perder-se ele mesmo, no infinito divino. Esse é o misticismo grego, o esforço da alma para ultrapassar a condição humana e viver plenamente a vida divina.
Os mitos mais fortemente relacionados ao misticismo grego figuram entre Dionísio e Deméter, com todos os seus fabulosos personagens.
Dionísio
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