(acredito que o texto seja da Rosane Volpatto)
No Antigo Egito, praticava-se a Medicina mágica, isto é, uma medicina que apresentava estreita ligação com atividades religiosas, sendo conduzida em Templos-hospitais. Um simples ato médico, sempre estava ligado ao mundo mágico, onde encontrava o seu modelo divino. Era a magia que permitia à medicina ser preventiva. O médico preparava cientificamente fórmulas, mas considerava insuficiente esta ciência. Era necessário acrescentar-lhe uma fórmula mágica para lhe dar alma. Quando alguém adoece, diziam eles, era poque Seth ou outro demônio cruzou o caminho do paciente e o assaltou, tornando-o impuro. Seria então necessário o médico apresentar-se diante da Mãe dos Deuses e aprender com ela os encantamentos formulados pelo próprio Mestre do Universo.
Ísis era entre os egípcios a deusa protetora da medicina, da espécie humana, da magia, dos encantamentos, da fecundidade, da maternidade, e protetora das mulheres em todos os problemas peculiares a este sexo. Além dela havia outras divindades que presidiam o nascimento dos homens.
O nascimento, como sabemos, pode ser um momento feliz como também extremamente perigoso, tanto para mãe como para o filho, cuja existência é ameaçada pelos maus espíritos. Compete ao médico-mago egípcio assistir a parturiente, fazendo intervir gênios bons armados com facas, dispondo de armas tão eficazes como as de seus temíveis adversários. Mas é prudente também apelar para as grandes divindades. Em um nascimento difícil, deve-se invocar uma deusa e um Hórus.O nascimento material é prelúdio do nascimento celeste. A corda de medida é assimilada ao cordão umbilical.
Todas as mulheres que passam pelas dores do parto são assistidas pelas divindades que, sendo invocadas, virão em socorro. É de grande utilidade, em um momento como este, usar amuletos protetores, nomeadamente os do alegre anão Bês. A parturiente pode também ser encomendada diretamente a Hathor para que esta venha assisti-la.
Meskhenet é outra deusa que é especialmente afetada pelo desenrolar do parto. Esta deusa é descendente de Atum, filha de Chu e Tefnut, governando o nascimento, mas não só o material, como também o renascimento dos mortos. É ela que faz penetrar o espírito no corpo do recém-nascido que vai sair do ventre materno, oferecendo ainda, os poderes celestes e terrestres que ele necessita, impedindo que qualquer malefício seja pronunciado, afastando dele todo o mal. Meskhenet era representada como uma mulher que levava sobre a cabeça algo parecido como uma antena de insetos ou brotos de palmeiras dobrados em seus extremos.Por vezes, ostentava um tijolo em sua cabeça. As mulheres egípcias se colocavam sobre dois tijolos no momento de dar a luz e logo ao nascer, colocavam os filhos sobre eles. No recinto em que se fazia o parto, Meskhenet aparecia como quatro dançarinas que inscreviam o destino da criança nas rachaduras dos tijolos, Quando Hórus nasceu, nos pântanos de papiro, ela fez o parto prevendo-lhe um grande futuro. Ela também ajudou Ìsis nos ritos funerários do marido Osíris. Deusa da reencarnação, Meshkhnet pede o renascimento do morto no Salão de Julgamento de Osíris. Ela era casada com Shai, Deusa do Destino.
Ísis é outra deusa associada à maternidade, pois ela é mãe por excelência. Se não tivesse ela um parto feliz, as consequências seriam aterradoras. O próprio princípio da vida seria posto em causa. É a razão por que toda a futura mãe coloca sua confiança na deusa, tal como obtém à assistência da deusa hipopótamo Tueris, cujo nome significa "A Grande". É ela que assegurava a fertilidade e os partos sem riscos. Adorada em Tebas, é representada em inúmeras estátuas e estatuetas sob os traços de um hipopótamo fêmea grávida erguida, com patas de leão, de mamas pendentes e costas terminadas por uma espécie de cauda de crocodilo. Além de amparar as crianças, Tueris também protegia qualquer pessoa de más influências durante o sono.
Duas figurinhas de Tueris estão no Museu de Berlim estão cavadas de modo a que se possa colocar pedaços de roupas pertencentes a uma mulher grávida. Outra figurinha era preenchida com leite:o líquido escorria lentamente da mama da deusa hipopótamo, garantindo à mãe que esta amamentaria o filho sem problemas. Existia uma comunidade de doze deusas hipopótamos, cada uma destinada a velar cada mês do ano. Na origem, a deusa hipopótamo era identificada com o céu, recebendo o nome de "Misteriosa do Horizonte" e era representada por uma estrela situada no hemisfério norte do céu. Até a Época Baixa, presidirá aos "mammisi", santuários especialmente consagrados aos ritos de nascimento.
Agora Tueris, com seu ventre enorme, é feia somente em aparência: sob esta forma de espantar, esconde a sua verdadeira natureza, que nos é revelada pelo texto de uma estatueta:
"Eu sou Tueris, em todo o seu poder, a que combate por aquilo que lhe pertence e afasta os que tentam fazer mal a Hórus, meu filho. Eu sou Ipet, que reside no horizonte e cuja faca protege o Mestre universal, a patrona que se teme, aquela cujo aspecto é ornado e que decapita aqueles que contra ele se revoltam."
Tueris é uma deidade doméstica, que algumas vezes é vista junto a Bês na Sala do Nascimento. Segundo Plutarco era concubina de Seth (que também pode aparecer na forma de hipopótamo macho). No entanto. Tueris se uniu as forças de Hórus na batalha contra Seth. Seus Centros de culto foram: Karnak, Heliópolis, Gebel Silsileh, Abu Simbel e Redesiyeh.
A criança recém-nascida é um ser frágil e os antigos egípcios tinham um sentido agudo de uma mágica médica em que o ambiente circundante exercia um papel importante. As forças negativas não são apenas expulsas para fora do corpo da criança, mas também para fora da casa. Não pode existir um ser saudável em um ambiente doentio. Felizmente, existia um líquido mágico que servia como um poderoso remédio: o leite materno. Era o leite da mãe, abençoado pelas deusas que expulsa tudo que é maligno para longe das crianças. Esse alimento extraordinário cura cólicas, a gripe, as queimaduras, confere vigor e potência. O leite da mãe é considerado uma "água de proteção" que põe o recém-nascido ao abrigo das doenças. Não tinha Ísis, ao sair da oficina de tecelagem, apagado o fogo que havia atingido Hórus graças ao seu leite?
Leite de mulher são excelentes suportes mágicos para se lutar contra a gripe.
Verificamos, portanto, que os poderes mágicos do leite materno, reverenciados ainda hoje, são conhecimentos muito antigos, já bastante cultuados pelos ancestrais egípcios.
Amamentar é um ato de amor, mas o mais belo é o resultado deste amor mágico: fazer de uma criança um homem.
A criança pela força deste amor, se tornará a luz do futuro.
Nunca esqueça, que o desenvolvimento psíquico sadio de uma criança dependerá exclusivamente da dedicação amorosa de sua mãe. O brilho no olhar da mãe, primeira imagem captada pela criança ao nascer, é a garantia para a exploração da capacidade de amar a criança. O homem que foi uma criança amada e bem amamentada, irá sentir a força criativa do amor e com certeza poderá transmiti-las às outras pessoas.
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