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16 de ago. de 2012

Conceito de Mitologia

Autoria desconhecida

Mitologia - conceito

Aristóteles, em sua Poética, referindo-se ao teatro e à poesia, diz que o homem se compraz em imitar: "Ao que parece, duas causas, e ambas naturais, geraram a poesia. O imitar é congênito no homem ... e os homens se comprazem no imitado." (p 243). Com acerto, o mestre grego também poderia dizer que ao homem é próprio o desejo de registrar; registrar o que vê, o que ouve, o que sente, o que vive. A pré-história é muito mais longa que a história porém o homem começou a elaborar seus registros muito antes de ter inventado a escrita e o primeiro dos livros, certamente, foi a memória, esta faculdade psíquica, livro compartilhado pela fala em linguagem articulada, código transmissor de lembranças, conhecimento que assim transita entre as mentes e atravessa gerações. A forma mais primitiva de expressão e manutenção deste conhecimento é a elaboração do MITO.

O vocábulo grego mythos significa narrativa, relato. Ainda em Aristóteles, o mito é definido como "uma trama de fatos". Outros autores referem-se a mito e fábula como sinônimos e, neste caso, fábula é "narração alegórica, lenda, enredo" (Dicionário Aurélio). O filósofo renascentista italiano, Giambatista Vico, acredita que a composição dos mitos foi o primeiro instrumento intelectual posto à serviço do conhecimento cumulativo, que permitiu à humanidade transpor os limites de uma existência animal e evoluir para a racionalidade e para a civilização. Vico defende a hipótese de que os primeiros falantes foram poetas e "cantantes"; que o verso surgiu antes da prosa, o canto, antes do discurso e que todo conhecimento, toda ciência passa por um tratamento poético que resulta em narrativas exemplares denominadas "MITOS". Os mitos contêm ensinamentos e explicações. Em seu código alegórico, linguagem repleta de símbolos que ocultam múltiplos significados, os mitos, especialmente os arcaicos, oferecem respostas para numerosas inquietações do ser humano.

TEMAS UNIVERSAIS

A verdade poética é uma verdade metafísica - Vico

Através dos mitos, as concepções mais antigas sobre questões metafísicas tradicionais foram preservadas ao longo da história: quem somos, onde estamos, de onde viemos, a origem de todas as coisas, da Terra, do Universo. Estas perguntas, que até hoje não encontram resposta segura, verdadeiros mistérios para a ciência objetiva, estão entre os primeiros temas que despertaram o interesse do pensamento mítico (pensamento elaborador de narrativas). Todos os povos do mundo possuem relatos sobre a origem do mundo, do homem, de sua tribo. São os mitos astrofísicos e antropológicos. Existem também os mitos psicossociológicos protagonizados pelos heróis de todos os tempos. Estes, oferecem modelos de comportamento, paradigmas (padrões) éticos e morais.

Um dos aspectos mais curiosos da mitologia antiga é o seu caráter universal, ou seja, a repetição dos temas, dos enredos, em todo o mundo, com pequenas variações, como nomes trocados. As semelhanças são evidentes não obstante as enormes distâncias que separam as nações no espaço e no tempo. É um fato incontestável, comprovado por numerosos estudos. Essa universalidade do mito é um fenômeno que intriga a ciência acadêmica. A questão é saber como povos que jamais mantiveram contato entre si podem partilhar de mitos tão parecidos, quando não são estruturalmente (poeticamente) iguais. A pesquisa comparada das cosmo gêneses, antropogêneses e lendas heroicas são bons exemplos dessa convergência cultural. Como assinala Vico, em seus Princípios para uma ciência nova:"... cada uma das nações gentílicas teve o seu Júpiter. ... Cada nação gentílica contou com seu Hércules. Varrão, entendidíssimo das coisas das antiguidades, chegou a enumerar quarenta deles." (VICO, p 43).

Nos trechos transcritos abaixo é possível verificar esta coincidência mitológica. Comparando o Livro do Gênesis judaico-cristão com tradições das mais diferentes culturas é fácil constatar as semelhanças. Diz o Genesis: "No princípio Deus criou os céus e a terra. E a terra era informe e vazia e havia trevas sobre a face do abismo: e o Espírito de Deus pairava sobre as águas." (Gênesis, 1). Nos Livros de Dzyan, registros da sabedoria esotérica da Índia antiga, conforme a Doutrina Secreta de H.P.Blavatsky, o despertar do Universo começa assim:

"O Eterno Pai, envolto em suas Sempre Invisíveis Vestes, havia adormecido uma vez mais durante Sete Eternidades. ... O Tempo não existia ... A Mente Universal não existia ... Só as trevas enchiam o Todo Sem Limites. ... A última vibração da Sétima Eternidade palpita através do Infinito. ... A Vibração se propaga ... as Trevas sopram sobre as adormecidas Águas da Vida. ... As Trevas irradiam a Luz e a Luz emite um Raio. ... O Raio atravessa o Ovo Virgem ... e desprende o Germe Não Eterno que se condensa no Ovo do Mundo." (BLAVATSKY, p 95)

Entre os povos dos arquipélagos do oceano Pacífico, nativos das ilhas Sociedade também falam da solidão de seu Deus imerso nas trevas:

"Ta'roa estava sentado em sua concha, na escuridão perene. A concha assemelhava-se a um ovo que vagueava pelo espaço infinito. Não existiam nem o céu, nem a Terra, nem o mar, nem a Lua, nem o Sol, nem as estrelas."

Nas ilhas Samoa o "Deus" é Tagaloa:

"O deus Tagaloa pairava no vazio, ele que tudo criou, ele só. Antes dele não havia nem céu nem Terra, ele estava completamente só, dormindo na imensidão do espaço.... Seu nome era Tagaloa-fa'atutupu-nu'u, o que quer dizer causa do crescimento." (DANIKEN, p 57).

Muitos outros enredos, mais específicos, são notavelmente recorrentes: as "guerras dos anjos" , as "guerras nos céus", as teogonias e o eterno conflito entre criador e criatura, entre filhos e pais, os castigos dos deuses, os dilúvios e seus "Noés", as aventuras ancestrais dos "Iniciadores" de onde provém o conhecimento de todas as técnicas, o advento dos Salvadores da humanidade, os Apocalipses, fim do mundo, as crenças em Paraísos, Infernos e demônios.


Buda do século V d.C. e a lápide do rei Pacal, cultura maia também do século V, encontrada em Palenque, América Central.

O Toth egípcio, patrono das ciências e das artes, encontra correspondentes na Mesopotâmia, na Judéia, na Grécia, na Europa setentrional dos Vikings, na América dos pré-colombianos entre outras civilizações que floresceram na Antiguidade. Na Babilônia, há mais de trezentos anos antes de Cristo, o sacerdote Berosso documentou em sua obra histórica, Babylônika:

"Oriundo do mar da Eritréia (hoje mar da Arábia), onde beira a Babilônia, no primeiro ano apareceu um ser vivo dotado de inteligência, chamado Oannes. Tinha corpo de peixe. Debaixo da cabeça de peixe, porém, cresceu outra cabeça, esta, de ser humano; em seguida, pés humanos cresceram de sua cauda. O ser possuía voz humana. ... Este ser não se alimentava e durante o dia se relacionava com os homens. Assim lhes transmitiu o conhecimento da escrita, das ciências e das múltiplas artes; ensinou-lhes como se construíam cidades e se erguiam templos, como se introduziam as leis e se media a terra; mostrou-lhes a semeadura e a colheita de frutos (BEROSSO Apud DANIKEN, 1992 - p 123)

... o livro sagrado dos parses (persas), intitulado Avesta, registra que do mar surgiu um instrutor chamado Ima ... o qual ensinou os homens ... Para os fenícios, o ser de idênticas origens e capacidades chama-se Taut, e na velha China se relata que, à época do imperador Fuk-Hi, das águas do Meng-ho surgiu um monstro com corpo de cavalo e cabeça de dragão, cujo dorso ostentava uma chapa que possuía sinais de escrita." (DANIKEN, 1992 - p 125)

Lendas ou registros históricos, os mitos se repetem, tramas e personagens mudam de nomes e roupas, mas o significado da totalidade expressiva é o mesmo. A ideia de um raciocínio poética (recriador, imitador) como patrimônio intelectual comum a toda humanidade encontra apoio não somente nas semelhanças de mitos e lendas mas também nas artes plásticas e na arquitetura. Um bom exemplo pode ser encontrado na confrontação das culturas egípcia, indiana e pré-colombiana, que parecem irmãs com suas pirâmides e figuras humanas retratadas de perfil ou cercadas de simbologia esotérica.

Uma das três pirâmides de Gizé. Egito
EGITO

Templo do Sol, arquitetura maia, América Central
AMÉRICA CENTRAL

HIPÓTESES

Estudiosos de várias áreas do conhecimento têm se empenhado em explicar estas coincidências. Uma das mais destacadas teorias é a concepção do inconsciente coletivo, formulada pelo psicanalista pesquisador, K.G.Jung. O inconsciente coletivo seria como uma dimensão outra de existência, não física, porém real apesar de impalpável, abstrata, puramente mental. Neste plano ontológico do SER estariam preservadas lembranças ancestrais que a escrita não registrou. Livres de barreiras de tempo e espaço, os indivíduos poderiam acessar tal acervo de conhecimentos em estados psíquicos semelhantes ao sono e ao transe hipnótico - estado este que a psiquiatria de Jung e para além de Jung afirma mas não consegue descrever em termos científicos.

Nos anos de 1990, o bioquímico Rupert Sheldrake retomou a hipótese de Jung e vem reformulando seus fundamentos com base em pesquisas laboratoriais. Sheldrake concebe o inconsciente coletivo de uma forma mais específica e presume que essa "dimensão" é um campo energético de natureza ainda desconhecida onde as informações transitam através de ondas de ressonância. Homens e animais poderiam ser influenciados por estas ondas que interferem, através de percepção-recepção inconsciente, em amplo espectro da vida: da forma e funcionamento dos organismos até os seus gostos, seus comportamentos, suas estratégias de sobrevivência.

Antes de Jung e da bioquímica avançada, o renascentista Vico, já citado neste ensaio, acreditava que a humanidade partilha de uma linguagem mental universal:

"O senso comum é um juízo despido de qualquer reflexão, comumente experimentado por toda uma ordem, por todo um povo, por toda uma nação ou por todo o gênero humano. (...) Indispensável é que exista na natureza das coisas humanas uma língua mental comum a todas as nações."

Mais antiga ainda, a antropogênese hindu de tradição ocultista afirma que todos mitos de origem arcaica são relatos corrompidos da história completa e real da espécie humana sobre a Terra de tal modo que personagens como Júpiter, Hermes, Osíris, Adão, Nóe, Abraão, Rama, Khrisna, Buda e até mesmo Jesus, teriam existido de fato e fariam parte de uma legião de espíritos elevados que, em diferentes Ciclos ou Idades (Yugas), desempenharam o papel de civilizadores e mestres da ética e da moral para o progresso cármico da humanidade. Sendo a mesma, em todo lugar, a fonte da sabedoria, aqueles espíritos elevados, os mitos são necessariamente semelhantes porque nada mais são que uma herança cultural, uma bússola de orientação deixada pelos mestres em proveito de futuras gerações.

Os grandes personagens da história espiritual da humanidade, de fato, deixaram legados frutíferos. Os seguidores das principais religiões do mundo repetem seus ensinamentos, que são a fórmula básica da boa convivência social. A força da religiões é inquestionável e, mesmo que as teocracias tenham sido formalmente enterradas, inevitavelmente, os padrões de correção comportamental recomendados pelas Igrejas inspiram fortemente a ideologia das leis. Não matar, não roubar, não caluniar, são mandamentos das Tábuas das Leis do hinduísmo-budismo, do judaísmo, do cristianismo e do islamismo.

Isto confere ao mito uma função sócio-educativa:

"... poetas, que, no grego significa "criadores". Eis ... as três tarefas que deve cumprir a grande poesia: inventar sublimes fábulas, adequadas ao entendimento popular, e comovê-lo [o entendimento popular] ao máximo para ao fim... atingir o fim que si próprio prefixou, qual o de ensinar o povo a agir virtuosamente..." (VICO, 1979)

Esta ideia de Vico não pode ser facilmente negada. Os mitos realmente são "educativos", "ensinam" coisas ao povo e este não é um atributo exclusivo das narrativas da antiguidade. Os mitos se refazem apropriando-se dos signos de identidade do presente que os convoca. Heróis e vilões estão sempre em confronto, a trama é a mesma; o que se renova são as formas práticas do heroísmo e da vilania. O guerreiro do passado, o filho dos deuses, hoje é um atleta, um cantor, um ator de sucesso, um político carismático. A cultura oral está quase morta no espaço público porque não há velhinhos contando histórias na praça; em compensação, a oralidade resiste entre as paredes da vida privada e vai alcançar indivíduos dentro de casa, a qualquer hora do dia, mostrando as sagas dos mitos que protagonizam os programas de TV, que ilustram as capas das revistas semanais e que, esperamos, junto com Vico, sejam capazes de "ensinar o povo a agir virtuosamente".

BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

Bíblia Sagrada. São Paulo: Edigraf, 1960.

BLAVATSKY, Helena Petrovna. A doutrina secreta, v. I. São Paulo: Pensamento, 2001.

DANIKEN, Eric von. Viagem a Kiribati. São Paulo: Melhoramentos, 1993.

______________ Será que eu estava errado? São Paulo: Melhoramentos, 1992

Mitologia grega, v I. [coleção] São Paulo: Abril Cultural, 1973.

VICO, Giambatista. Princípios de uma ciência nova. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

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