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Abençoados sejam todos!

7 de abr. de 2011

A Deusa

Peço desculpas pois na época que copiei este texto para estudar não anotei a autoria ou de onde tirei. Sofya.

 

A Deusa

Deusa Criadora de Tudo

Quem é Ela?

Ela é a jovem

De olhos brilhantes sem medo no coração

Ela traz o amanhecer

Quem é Ela?

Ela é jovem

O sonho ousado

Que caminha só.. Ela caminha só

Crescente de prata

Amada Donzela

Jovem, venha

Quem é Ela?

Ela é a amante

Seus ossos e sangue são a Terra

É Ela quem nos sustenta

Quem é Ela?

Ela é a amante

E a bondade que jamais falha

Ela caminha em poder

Abençoada Lua cheia

Sagrada Senhora

Mãe, venha

Quem é Ela,

Ela é Velha

Que sobreviveu além do medo

Ela sorri bem alto

Quem é Ela?

Ela é a Velha

Amável e sábia

Que conduz a vida... Ela conduz a vida

Dourada minguante

Honrada Anciã

Velha, Venha

Quem é Ela?

A adoração à Deusa foi a primeira Religião estabelecida pelos seres humanos. Muitas evidências arqueológicas, que incluíam estátuas, amuletos, cerâmicas, pinturas na cavernas e outras imagens indicando a veneração à Deusa, foram descobertas comprovando a existência de um culto primordial, no qual uma Divindade Criadora feminina era adorada.

Merlin Stone, em When God was a Woman (Quando Deus era uma Mulher), relata: “Arqueólogos localizaram evidências de adoração à Deusa antes das comunidades do período Neolítico, cerca de 7000 a. C.; algumas das esculturas datam do Paleolítico Superior, cerca de 25000 a. C. Desde as origens Neolíticas, sua existência foi comprovada repetidamente até os tempos romanos.”

A evidência mais convincente de adoração à Deusa vem de numerosas esculturas de mulheres grávidas com seios, quadris, coxas, nádegas e vulvas exageradas. Essas imagens foram intituladas pelos arqueólogos como estatuetas de Vênus, ou ídolos do culto à Grande Mãe. Elas são feitas de pedra, osso, barro e foram descobertas perto dos restos de paredes das primeiras habitações humanas. Estas estátuas foram encontradas na Espanha, França, Alemanha, Áustria, Checoslováquia e Rússia e parecem ter pelo menos 10 mil anos.

Essas esculturas não significam meras decorações das pessoas que as criaram, mas são, sim, objetos profundamente importantes, porque representam o meio pelo qual os seres humanos se expressavam antes mesmo de começarem a utilizar a fala. A arte, através da história, sempre revelou o que as culturas valorizavam e o conhecimento que tentavam passar às gerações futuras. Claramente o parto, a maternidade e a sexualidade feminina eram considerados sagrados. Isso nos mostra que essas culturas tiveram pouco ou nenhum conhecimento do papel do homem na reprodução. Para todos, a mulher concebia o bebê por ela mesma. Sexo não era associado com o parto, e as mulheres foram consideradas as doadoras exclusivas da vida. Até hoje, alguma culturas isoladas na Terra acreditam que o homem não tem participação nenhuma na concepção.

Além disso, como o conceito de paternidade ainda não tinha sido entendido, as crianças só pertenciam as mães e à comunidade. Crianças “ilegítimas” não existiam. As crianças levavam o nome de suas mães e a família descendia pela linhagem materna. Esta estrutura social, baseada na afinidade feminina, é chamada de “matrilinear” e ainda existe em algumas partes da África, Índia, Melanésia e Micronésia.

As culturas primitivas eram frequentemente matrifocais, ou seja, quando uma mulher casava, o marido ia morar com a família da esposa, em vez de a mulher ser desarraigada e se mudar para a casa da família do marido. Isto significa que as mulheres detiveram todo o poder, e o status da mulher na sociedade teria sido certamente cada vez mais alto, não fosse a queda matrilinear. Se não fosse o domínio patriarcal da sociedade e da religião, as mulheres jamais teriam sido totalmente dependentes dos homens e consideradas suas propriedades. A importância da virgindade e os castigos por adultério não teriam existido, pois eles fazem parte de conceitos patrilineares, em que a paternidade é mais estimada que a maternidade.

A adoração da Deusa nas culturas antigas incluía o papel principal das mulheres nos trabalhos religiosos e nas celebrações sagradas. As mulheres eram as grandes Sacerdotisas, Adivinhas, Parteiras, Poetisas e Curandeiras. Elas presidiam templos erguidos somente a Deusas como Ishtar, Ísis, Brigit, Ártemis e Diana, que estão entre as mais populares.

Do envolvimento das mulheres com a religião vieram muitos avanços, como o conhecimento do poder das ervas, que curavam os doentes e aliviavam a dor do parto, até o primeiro calendário, o calendário lunar, que foi utilizado por muito tempo e que pode ter-se originado no procedimento de mulheres que observavam seus ciclos menstruais e os comparavam com os ciclos da Lua. Além da astronomia, as mulheres desenvolveram também os idiomas, a agricultura, a culinária, a cerâmica e muito mais. As contribuições das mulheres para as culturas humanas são inúmeras e nunca tiveram o devido crédito e valor.

A Deusa teve grande popularidade e proeminência até que as religiões patriarcais, como Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, entre outras, silenciaram-na. A mudança para o patriarcado foi gradual e procedeu de uma reformulação nos sistemas de parentesco que se tornou de matrilinear a patrilinear. A ênfase na paternidade e no homem é clara e evidente nas principais religiões praticada até hoje.

A relação de pai/filho e Deus/Jesus é a chave do Cristianismo, embora a figura da mãe tenha conseguido persistir, aparecendo no Catolicismo na figura de Maria, que instigantemente é chamada de “A Mãe de Deus”.

Outro fator relativo à ascensão das religiões patriarcais foi a ênfase à ditaduras militares, que aumentaram o culto aos Deuses guerreiros. Esther Harding, em Women’s Mysteries (Mistérios das Mulheres) expõe: “A subida do poder masculino e da sociedade patriarcal provavelmente começou quando o homem passou a acumular bens e prosperidades, o que não é comunitário, e achou que a sua força pessoal e coragem pudessem aumentar suas posses e riquezas. Esta mudança de poder secular coincidiu com subida da adoração ao Sol sob um sacerdócio masculino que começou a substituir os muitos cultos à Lua realizados desde tempos “imemoráveis”. Assim, como os homens ganharam poder sobre as mulheres e o masculino se tornou a Grande Divindade, o Sagrado Feminino passou a ser reconhecido cada vez menos. A ausência do culto à Deusa trouxe guerras, crimes, regras e tirania.

A Deusa é o princípio Divino Feminino, a Divindade suprema adorada nas práticas Pagãs. Ela foi adorada ao redor do mundo por milhares de anos, até ser silenciada através das religiões patriarcais. Em anos recentes a Deusa e seus cultos ressurgiram e hoje contam com grande popularidade entre:

µ Feministas, que buscam uma dimensão espiritual para as suas causas políticas;

µ Aqueles que se interessam pelas religiões antigas, abrangendo aqui todas as manifestações Pagãs;

µ Mulheres e homens comuns que sentem que algo está se perdendo nas proeminentes religiões organizadas de hoje.

É difícil definir a Deusa em alguns parágrafos, mas a versatilidade é uma de Suas características mais interessantes. Para alguns Ela é a única Divindade existente. A Deusa não é necessariamente vista como uma pessoa, mas uma força multifacetada de energia que se expressa em uma variedade de formas e pode ter inúmeros nomes diferentes.

Ela foi chamada Ishtar, Astarte, Inanna, Lilith, Ísis, Maat, Brigit, Cerridwen, Gaia, Deméter, Danu, Arianhod, Ceridwen, Afrodite, Vênus, Ártemis, Athena, Kali, Lakshmi, Kuan-Yi, Pele e Mary, entre muitos outros nomes. A Ela foram atribuídos muitos símbolos, como serpentes, pássaros, a Lua e a Terra.

A Deusa é a Criadora de todas as coisas e, ao mesmo tempo, a Destruidora. Tudo vem Dela e tudo retornará a Ela. A Deusa está contida em tudo e vive na Terra, nos céus, no mar, em cada botão de flor, em cada pingo d’água e em cada grão de areia. Ela não é um Ser distante e intocável, mas sim uma Divindade que está aqui conosco, vive e se manifesta em cada um de nós. Ela é a Virgem, a Mãe e a Anciã. Ela é você, Ela é eu, Ela é tudo e todos.

Nas práticas Pagãs, a Deusa possui três aspectos distintos. A Triplicidade da Deusa é muito anterior ao Cristianismo e não é difícil que seja ela quem deu origem ao pensamento da Trindade Cristã. Porém, na Wicca, a Triplicidade se refere a três estados distintos da mesma divindade.

Cada um desses aspectos tem suas características particulares, distintas das outras, e cada uma delas traz a possibilidade de serem relacionadas com aspectos internos de nossa psique. Suas três faces são a Virgem, a Mãe e a Anciã, os seus aspectos reverenciados por toda a humanidade desde tempos imemoráveis.

A Virgem representa os impulsos, o começo, e está relacionada à Lua Crescente.

A Mãe é a Doadora da Vida, a Grande Nutridora, e está associada à Lua Cheia.

A Anciã é a detentora da sabedoria, a Grande Conhecedora e Transformadora, e está associada à Lua Minguante.

A Deusa é abrangente porque pode ser tudo que você quiser que Ela seja. A maioria dos seguidores da Deusa compartilha algumas convicções em comum. Starhawk, uma das mais atuantes Bruxas modernas e autora de Dança Cósmica das Feiticeiras, afirma que três princípios da religião da Deusa são: a imanência, a interconexão e a comunidade.

Imanência é o meio pelo qual todos os seres estão relacionados e a forma como estamos unidos ao Cosmo.

Como comunidade, crescimento e transformação passam por interações íntimas, basicamente, a lei da Deusa é Amor - Amor Incondicional. Ela não tem nenhuma ordem a ser seguida a não ser o Amor, em todas as suas manifestações e formas.

A Conexão com a Três Faces da Deusa

Celebre a Deusa em todas as suas formas e aspectos divinos.

Possa suas imagens e palavras inspirar

E lembrar você que Ela está sempre presente

E merece nosso respeito e cuidado.

Ouça o Seu canto, pois Ela canta em tudo o que há!

A conexão com a Deusa é um processo vital na Religião Wicca. A Deusa é a Grande Criadora e mantenedora da vida. É através Dela que todas as coisas provêm e a Ela tudo um dia retornará.

Segundo a Crença Pagã, a Deusa possui três faces: a Donzela, a Mãe e a Anciã. As três faces da Deusa estão ligadas às três fases da Lua trabalhadas na Bruxaria, que são as Luas Crescente, Cheia e Minguante, e aos três ciclos de nossa vida, que são a infância, a maturidade e a velhice.

Entrar em contanto com as faces da Deusa significa saber o que esses períodos podem nos trazer de positivo e o que aprendemos e poderemos aprender com eles.

Conecte-se às três faces da Deusa através destes simples rituais.

 

Donzela

Dentre as três faces da Deusa, a Donzela ou, como também é chamada, a Virgem é a mais jovem, relacionada com os descobrimentos e aspectos mais criativos de nossa personalidade. Ela é a inocência e despreocupação, a alegria de viver. Está associada com a Primavera e é festejada em Ostara.

O termo Donzela ou Virgem não se refere ao sentido sexual, mas sim ao aspecto de inocência e independência. A Virgem é dona e responsável por si mesma. Este é um sentido quase inconcebível de pensar em uma sociedade patriarcal, mas que era muito compreendido e aceito entre as sociedades primitivas.

Os nomes recebidos pela Donzela variam de acordo com as distintas culturas em que a encontrarmos. Damos como exemplos:

Ártemis: Deusa romana dos bosques e da caça, tida como a eterna Virgem.

Perséfone: Também conhecida como Prosérpina, cujo nome justamente significa Donzela. É a filha de Deméter e foi raptada por Hades; reina junto com ele no Submundo, lembrando-nos assim o outro aspecto da Deusa: a Anciã.

Rhianon: Deusa celta que saiu do submundo, o que a relaciona com Perséfone.

Rituais que usam a face Virgem da Deusa:

µ Qualquer novo início, ou até mesmo esperanças e planos para novos começos.

µ Quando assumimos um trabalho novo ou planejamos solicitar um novo trabalho.

µ Durante os “primeiros passos” das novas ideias.

µ Sempre que você planeja ou começa um ciclo completo em sua vida.

µ Sempre que você começa uma fase nova em sua vida.

µ Quando se muda para uma nova casa ou apartamento.

µ Ao entrar em uma nova escola ou voltar a estudar depois de um longo tempo.

µ Qualquer jornada que esteja conectada com mudanças antecipadas.

µ Começo de uma relação nova, amor ou amizade.

µ Planos para engravidar.

µ Nascimento de uma criança.

µ A primeira menstruação de uma menina.

µ O início da puberdade de um menino.

Os animais associados ao aspecto Virgem da Deusa são os Cervos e qualquer outro animal silvestre.

O aspecto Virgem da Deusa representa a mocidade, a excitação da conquista dos desejos, e a novidade da vida e da magia. Na idade humana ela estaria entre a puberdade e os vinte anos. As cores dela são suaves e claras, como branco, cor-de-rosa suave ou amarelo-claro.

 

Meditação para Conexão com a Donzela

Material necessário:

· Um Cálice com água;

· Duas velas brancas;

· Margaridas;

· Pétalas de rosas brancas.

Procedimento: Trace o Círculo Mágico de forma usual e então invoque a Donzela com as seguintes palavras:

“Deusa e amada Caçadora

Venha a mim.

Donzela do Coração Indomado

Venha a mim.

Você, que anda pelas florestas,

Venha a mim.

Você, que é a Grande Caçadora noturna

De olhos brilhantes, que traz o amanhecer,

Venha a mim.

Oh! Crescente de prata,

Você que é o Sonho ousado,

Aquela que caminha só,

Venha a mim.

Jovem, Donzela, Virgem,

De cabelos enfeitados de flores e folhagens,

Parceira de pássaros e cães,

Caçadora Selvagem dos céus.

Venha a mim.”

Acenda as duas velas brancas, coloque o Cálice no meio das velas e preencha-o com as pétalas de rosas brancas.

Enfeite o seu Altar com as margaridas, enquanto reflete e medita sobre os atributos da Donzela:

µ Os novos inícios

µ A luta

µ A criança

µ O amor

µ O companheirismo

µ A audácia

µ A força de vontade

Medite sobre esses atributos e o que eles significam para você. Enquanto isso, enfeite o seu Altar com as margaridas. Coloque algumas delas nos cabelos e continue a refletir nos atributos da face Virgem da Deusa.

Entoe uma canção de sua infância, que sua mãe cantarolava para que você dormisse. Continue refletindo sobre os atributos da Donzela e deixe o seu canto levá-lo até um bosque silencioso e repleto de paz.

Sinta a harmonia desse lugar, o cheiro, as cores e comece a caminhar pelo bosque.

Imagine uma moça jovem e bela, vestida de branco e carregando um Cálice de cristal com água, vindo em sua direção. Ela é a Donzela que veio abençoá-lo e trazer sua magia até você.

Ela lhe oferece o Cálice, dizendo a você que beba o líquido contido nele. Você pega o Cálice, toma a água e sente-se renovado, tranquilo e harmônico ao ingerir o conteúdo do sagrado Cálice da Donzela.

Você entrega o Cálice a Ela e agradece-lhe. Ela toca a sua testa e você percebe que todo o seu ser brilha ao toque da Deusa. Ela o está abençoando com a Sua energia de vida, juventude e força.

Deixe o poder da Donzela atuar sobre você. Sinta-se preenchido pela luz da Deusa, enquanto Ela vai se afastando lentamente de você.

Volte pelo mesmo caminho pelo qual você veio e comece a cantar novamente a mesma melodia que o levou ao bosque. Cante e deixe que ela lhe traga a realidade novamente, e aos poucos, sinta-se no lugar onde você começou sua jornada.

Pegue o Cálice com água, que se encontra sobre o seu Altar, beba um gole de sua água.

Agradeça à Deusa e destrace o Círculo, tendo a certeza de que a Donzela o abençoou.

 

Mãe

A face Mãe da Deusa é tida como a da eterna doadora da vida. Esta foi uma das primeiras representações religiosas expressas pelos seres humanos.

É a esse aspecto da Deusa que estão associadas todas as imagens que foram encontradas em escavações de sítios arqueológicos, como a Vênus de Willendorf.

Algumas imagens mitológicas atribuídas à Mãe são tidas tanto como criadoras quanto destruidoras. Podemos ver isso como a própria Natureza em todos os seus aspectos.

Existem numerosos exemplos que poderiam ser associados ao aspecto da Deusa Mãe:

Deméter: Encarregada da fertilidade da terra e das colheitas.

Ísis: Chamada também de a Grande Mãe Criadora e Doadora da Vida.

Badb: A Deusa celta que forma uma trindade junto com Anu e Macha. Possui um caldeirão como símbolo do ventre.

Freya: Considerada a líder das Disir, as matriarcas Divinas. Está intimamente ligada à Magia e aos gatos.

Temas de Rituais que usam a face Mãe da Deusa:

µ Projeto de alegria e conclusão.

µ Quanto o parto está próximo.

µ Necessidade de força para finalizar algum assunto ou situação mal-resolvida.

µ Bênçãos e proteção. Especialmente a mulheres que são ameaçadas por homens.

µ Direção em decisões da vida.

µ Matrimônios.

µ Achando ou escolhendo uma companheira ou um companheiro.

µ Escolhendo ou aceitando um animal. Proteção de vida aos animais.

µ Fazendo escolhas de qualquer tipo.

µ Buscando por períodos de paz.

µ Intuição em desenvolvimento psíquico.

µ Direção espiritual.

A Mãe é aquela que se volta para a nutrição, à preocupação e a fertilidade; é uma mulher no início da vida e no cume do seu poder. Ela protege e assegura a justiça. Na idade humana, seria uma mulher por volta dos trinta anos. As cores dela são um pouco mais fortes que as da Virgem, como vermelho, verde, cobre, púrpura, azul.

Os animais associados ao aspecto Mãe da Deusa são o gato e a pomba.

Meditação para Conexão com a Mãe

Material necessário:

· Um cálice com vinho;

· Uma vela vermelha;

· Caldeirão;

· Ramos de trigo.

Procedimento: Trace o Círculo Mágico. Coloque a vela vermelha no interior do Caldeirão. Enfeite o seu altar e o Caldeirão com os ramos de Trigo e então invoque a Deusa:

“Deusa Mãe, cujos ossos e sangue são a Terra,

Venha a mim,

Deusa nutridora e bondosa,

Fertilidade da Terra,

Fogo da Lareira,

Venha a mim,

Mãe natureza,

Criadora do mundo e poderosa frutificadora,

Venha a mim, Senhora.

Venha com a sua força plena e brilhante,

Venha a mim, Senhora.”

Acenda a vela do Caldeirão e olhe para a chama, meditando sobre os atributos da face Mãe da Deusa:

µ Bondade

µ Criação

µ Nutrição

µ Bênção

µ Proteção

µ Auxílio espiritual

µ Frutificação.

Medite sobre esses aspectos regidos pela Deusa, olhando fixamente para a chama da vela. Feche os olhos e visualize uma mulher madura vindo da escuridão ao seu encontro.

Ela é a Grande Mãe, a Criadora de tudo e de todos.

Ela caminha em sua direção sorrindo e carregando um ramo de trigo e uma cornucópia nas mãos. É a nutridora, a Deusa da fertilidade e da abundância. Ela sorri para você enquanto vertem moedas, grãos e frutas de sua cornucópia, ao vir em sua direção. Pede que você abaixe e pegue uma das moedas. Você assim o faz e entrega a moeda a Ela. A Deusa traça um símbolo sobre a moeda e lhe devolve, dizendo que é um presente dela para você. Aos poucos você percebe que de sua cornucópia não vertem mais moedas e grãos, mas sim uma poderosa luz que começa a envolver todo o seu ser. Essa luz lhe traz vida, abundância, fartura e prosperidade. Sinta a energia da Deusa fluir para você. Aos poucos a luz vai se dispersando e você percebe que a figura da Deusa se dispersa junto com a luz. Agradeça a Ela e sinta-se retornando aos poucos à sua consciência normal.

Tome um gole de vinho, despeje um pouco dele dentro do Caldeirão como uma oferenda à Deusa.

Agradeça à Mãe e destrace o Círculo.

 

Anciã

Sem a Virgem não há começos, sem a Mãe não há vida e sem a Anciã não há o fim. A Deusa Anciã é o aspecto menos compreendido e o mais temido, já que nos leva inevitavelmente a refletir sobre a morte.

A Anciã foi reverenciada nas antigas culturas como regente do Submundo, visto antigamente como um lugar de descanso das almas entre as reencarnações. Obviamente todos nascemos e morremos, e a função da Deusa Anciã é nos acompanhar durante a última etapa de nossa vida, preparando-se para o Outro Mundo.

Os exemplos associados à Deusa Anciã são:

Hécate: Entre os gregos, chamada durante a Idade Média de a Rainha das Bruxas, era uma divindade do Submundo e da Lua, adorada nas encruzilhadas, onde se faziam sacrifícios em sua homenagem.

Hel: Deusa germânica do Submundo. Segundo os mitos, era a Ela que retornavam todos os mortos ao fim de sua existência.

Morrigu: Deusa celta dos Mortos, que também regia as guerras. Tem um aspecto triplo em si mesma e às vezes era chamada de “As três Morrigans”.

Temas de Rituais que usam a face Anciã da Deusa:

µ Relações, trabalhos, amizades e amizades que estejam terminando.

µ Menopausa ou sintomas de envelhecimento.

µ Divórcio.

µ Um reagrupamento de energias necessárias para o término de um ciclo de atividade ou problema.

µ Tranquilidade antes de pensar em novas metas e planos.

µ Quando as plantas estão prontas para o Inverno.

µ Morte de uma pessoa ou animal.

µ Contemplação ao término de seu próprio ciclo da vida.

µ Mudança de habitação ou trabalho.

µ Necessidade de forte proteção contra ataques nos níveis físicos ou psíquicos e aborrecimento no plano dos espíritos.

µ Entendimento dos mistérios mais profundos.

µ Desenvolvimento dos estados de transe ou comunicação com o outro mundo.

A Anciã é um ser de sabedoria da idade avançada. Ela é a Bruxa e conselheira. Preocupa-se com a Virgem e com a Mãe. Ela é lógica e pode ser terrível em sua vingança. Na idade humana, ela teria aproximadamente 45 anos ou mais. Dos três aspectos, o mais difícil de ter correspondência com a idade humana é o da Anciã. As cores tradicionais dessa face são: preto, cinza, púrpura, marrom ou azul da meia-noite.

O aspecto negro da Deusa nos ensina que, assim como tudo na Natureza se move em ciclos, nossa vida segue o mesmo fluxo, e devemos aceitar a morte como uma passagem a outro estado, tão válido e parte da vida quanto o próprio nascimento.

Os animais associados à Deusa Anciã são a coruja, o corvo e o lobo.

Meditação para Conexão com a Anciã

Material necessário:

· Caldeirão;

· Um carretel de linha preta;

· Uma vela preta.

Procedimento: Trace o Círculo Mágico e então invoque a Deusa na sua face de Anciã:

“Senhora da Sabedoria,

Venha a mim.

Grande Transformadora e Sábia,

Venha a mim.

Deusa do Caldeirão sagrado,

Venha a mim.

Deusa do Caldeirão sagrado,

Venha a mim.

Você, que nos conduz ao instinto seguro através dos seus mistérios,

Venha a mim.

Poderosa Bruxa, Guardiã da força da Virgem e Portadora do Amor da Mãe,

Venha a mim.

Você que, por entregar seu amor em liberdade, é sempre Virgem,

Venha a mim.

Você, que conhece a força e segredo de todos os ritos,

Venha a mim.

Esteja comigo, Senhora.

Grande Conhecedora dos mistérios da vida,

Venha a mim.”

Coloque a vela preta no interior do Caldeirão e acenda-a. Comece a desenrolar o carretel, meditando sobre os atributos da Anciã:

µ Mistérios

µ Sabedoria

µ Transformação

µ Exterminação

µ Poder oculta

µ Encantamentos

µ Força mágica

Continue desenrolando o carretel, tendo em mente que ele representa o fio de sua vida. Coloque a linha desenrolada dentro do seu Caldeirão, circundando a vela, e continue a meditar.

Feche os olhos e sinta as batidas do seu coração. Deixe que o pulsar dessas batidas o leve até um Círculo de pedras envolto por brumas. Aos poucos essas brumas começam a se dissipar e você visualiza uma Anciã envolvida por um manto, vindo em sua direção. Ela apóia-se num cajado e caminha lentamente, vindo ao seu encontro. Ela é Anciã que atravessou os Mundos para encontrar-se com você.

Ela se aproxima e então pergunta o porquê de sua ida até aquele lugar sagrado e o que você quer dela. Converse com Ela e responda às suas indagações. Diga que você foi ao encontro dela para conhecer os seus mistérios. Peça-lhe conselhos e orientações. Deixe que Ela o oriente.

Depois de conversar tudo o que era necessário, Ela o abençoará com o seu cajado, traçando um grande Pentagrama de luz sobre você. Deixe o poder Dela atuar sobre a sua mente e corpo. Ela está partilhando o Seu poder com você para que se torne ainda mais poderoso e sábio.

Agradeça-lhe a bênção, enquanto Ela se afasta vagarosamente de você.

Sinta as batidas do seu coração novamente e deixe que o seu pulsar traga-o à realidade novamente. Lentamente sinta o seu ser e abra os olhos.

Agradeça à Deusa e destrace o Círculo Mágico.

 

Mistérios Femininos

O Vaso da Transformação - visto como mágico - só pode ser efetuado pela mulher porque ela própria, em seu corpo que corresponde ao da Grande Deusa, é o caldeirão da encarnação, nascimento e renascimento. E é por isso que o caldeirão ou pote mágico está sempre nas mãos de uma figura humana feminina, a sacerdotisa e posteriormente a bruxa.

Erich Neumann, The Great Mother

A Wicca é, entre outras coisas, essencialmente um culto lunar no qual residem os Mistérios Femininos da Antiga Europa. Os Mistérios Femininos podem ser divididos em três categorias principais: os Mistérios das Tríades, Os Mistérios do Sangue e os Mistérios Obscuros. Cada um deles contém em si outros aspectos relativos dos mitos associados nos quais residem.

Os Mistérios das Tríades Femininas são compostos dos seguintes aspectos: Preservação, Formação e Transformação. Estes se relacionam aos mistérios mundanos segundo os quais as mulheres tradicionalmente exercem domínio sobre o lar, a mesa e a cama. Em tempos longínquos, os símbolos do poder de uma mulher estavam ligados a essas facetas da vida humana. A vassoura, o caldeirão, a lareira e o travesseiro eram símbolos de seu reinado doméstico. Em tempos antigos, as mulheres eram honradas por seu dom de alimentar a família. O lar era um local de estabilidade e tranquilidade. As mulheres controlavam, direta ou indiretamente, todas as facetas da vida familiar e exerciam papel vital na comunidade.

Os Mistérios do Sangue associam-se aos ensinamentos e ritos ligados à menstruação, ao renascimento dentro do mesmo clã, à magia contagiosa, magia sexual e ressurgência atavística. Todos são conceitos extremamente antigos, que se originaram ao menos na era neolítica. Os Mistérios do Sangue são em sua maior parte exclusivos às mulheres e serviam para eleva-las na antiga estrutura dos clãs. O poder inerente a esses mistérios levava os homens a uma posição de anuência dentro dos primitivos cultos matrifocais. Dessa Tradição Misteriosa surgiu o clero matriarcal da Wicca.

Os Mistérios Obscuros envolvem elementos de natureza oculta. Sob essa categoria temos coisas como magia lunar, o culto de Diana, Hécate e Prosérpina, morte e renascimento, magia astral, magia dos sonhos e geralmente elementos “do Outro Mundo”. Esse é um dos mais perigosos, e talvez mais poderosos, aspectos dos mistérios. Sem dúvida, o poder pessoal resultante do domínio dessa tradição é a base do medo em relação às bruxas durante o período da Inquisição.

A Tradição dos Mistérios Femininos surgiu do fato de que as mulheres primitivas viam a si mesmas como um mistério. Havia uma necessidade natural de compreender coisas como o sangue menstrual, a gravidez e o parto. Esses elementos separavam claramente as mulheres dos homens, cujos corpos não apresentavam tais poderes. Para os humanos primitivos, certamente havia uma força mágica em ação, e aparentemente ela só atuava sobre as mulheres do clã. Tal mentalidade resultou na elevação do status das mulheres e estabeleceu um sentimento de reverência entre os homens.

Originalmente, o clã funcionava como um grupo de indivíduos, uma consciência coletiva. Durante esse período, os Mistérios Femininos consistiam principalmente de ritos de fertilidade que envolviam o clã como um todo. A alteração da consciência pela qual o indivíduo (bem como as relações entre indivíduos) era importante evoluiu gradualmente, dando origem a vários cultos interiores. Esses cultos eram extensões dos mistérios regidos pelas mulheres. Dessa nova estrutura surgiram regras acerca das relações sexuais e da menstruação. As mulheres foram as primeiras a perceber a ligação entre o ato sexual e a concepção. As iniciadas aprendiam como evitar a concepção juntamente com os segredos da magia do amor.

Com o passar do tempo, os indivíduos passaram a se destacar por suas habilidades especiais ou qualidades exclusivas. A mudança fica bem evidente no culto do caçador-guerreiro dos Mistérios Masculinos, em que o mais valente e o mais forte possuíam papel especial. Entre as mulheres, isso se desenvolveu mais na forma de práticas xamânicas. Certos indivíduos apresentavam uma singular afinidade com o mundo natural das plantas e dos animais e possuíam alto grau de habilidades mágicas e psíquicas. Esses indivíduos então se transformaram em facilitadores dos ritos tribais, alguns secretos, outros públicos.

 

OS MISTÉRIOS DAS TRÍADES

A transformação de tribos de coletores-caçadores em comunidades agrícola (de primitivo para cultural) foi um processo instituído pelas mulheres. As mulheres cuidavam do fogo e preparavam as refeições; elas eram o centro da própria vida. Eram também fundamentais à construção e manutenção de abrigos. Eram as tecelãs, atando e unindo, criando tramas vasos para armazenar alimentos e transportar água. Também criaram vasos para armazenar alimentos e transportar água.

Durante períodos nos quais os alimentos eram menos abundantes, as mulheres controlavam a utilização das provisões ao ocultar o alimento em silos de armazenamento subterrâneo. Os homens, geralmente envolvidos em caçadas, defesa contra inimigos da tribo ou executando trabalhos braçais, não tinham ciência das atividades das mulheres. Foi dessa prática de ocultar os alimentos que as mulheres aprenderam sobre os ciclos da vida vegetal. Tubérculos e diversos grãos enterrados no solo começaram a brotar o se enraizar, possibilitando às mulheres a primeira observação do cultivo. Habilidade em transformar barro em cerâmica e sementes em plantas foi a base para os Mistérios da Transformação. Deles evoluiu a conhecimento do preparo de poções herbais ou bebidas intoxicantes.

Tais descobertas e associações estimularam as mentes das mulheres e elas desenvolveram uma consciência diferente da dos homens. As mulheres passaram a pensar em níveis mais expansivos, rompendo com as barreiras do pensamento primitivo. Os homens estavam mais concentrados nas ligações imediatas; o rastro recente de um animal significando que estava por perto, a distância a que uma lança podia ser atirada, e assim por diante. Isso estimulou diferentes modos de consciência para os homens, e eles evoluíram por um caminho mental diferente do das mulheres. Cada uma dessas mentalidades era necessária para o bem-estar do clã; sem esse equilíbrio, muito provavelmente não estaríamos aqui hoje.

O fato de que as mulheres eram geralmente responsáveis pelas crianças do clã significava que elas permaneciam próximas à vila. A vila era relativamente mais segura do que a vastidão onde o perigo dos animais selvagens e dos intrusos nômades constituía uma ameaça real. Fora desse cenário, as mulheres naturalmente iniciaram a formação de sistemas sociais. Nos Mistérios da Formação, a estrutura social era matrilinear. Somente após o homem tomar ciência de seu papel na procriação foi que esse sistema começou a se alterar, Entretanto, em algumas partes do mundo atual, como na África e na América do Sul, as sociedades matrilineares - ou o que resta delas - ainda existem.

As mulheres estabeleceram certos fatores sociais para controlar os naturalmente forte desejos sexuais dos homens. No livro Blood Relations - Menstruation and The Origins of Culture (Yale Univ. Press, 1991), de Chris Knight, encontramos muitos exemplos interessantes de tais estruturas sociais. Knight teoriza que as mulheres entravam em greves sexuais para forçar os homens a sair em caçada. Retornar com carne fresca significava o fim da greve, uma troca de sexo por alimento. Para que os homens não se preocupassem com a possibilidade de os jovens desfrutarem de privilégios sexuais durante sua ausência, as mulheres criaram tabus quanto ao coito entre irmãos e irmãs, mães e filhos. As mulheres também desenvolveram um relacionamento entre irmãos e irmãs, para que os interesses sexuais de outros machos que permanecessem na vila fossem inibidos pelos irmãos das mulheres. Do mesmo modo como controlavam o fogo que cozinhava seus alimentos e transformava o barro, as mulheres também controlavam o fogo da natureza sexual do homem.

Assim, encontramos no antigo papel das mulheres na vida do clã os mistérios da preservação, formação e transformação. Desse essencial papel das mulheres surgiram as tradições internas associadas a suas necessidades privadas e pessoais. O sistema de tabu foi originalmente criado pelas mulheres para se abster das exigências/necessidades da comunidade e então concentrar-se nos mistérios que as afligiam: menstruação, gravidez e parto.

 

OS MISTÉRIOS DO SANGUE

No livro Sacred Pleasure - Sex, Myth and the Politics of the Body (HarperCollins, 1995), Riane Eisler nos relata que os pigmeus BaMbuti da floresta do Congo referem-se à menstruação como ser abençoada pela Lua. Não há, naquela cultura, nada de aparentemente negativo associado ao período da menstruação. O primeiro sangue menstrual de uma mulher é comemorado com uma festa chamada elima, que envolve toda a aldeia. Após sua primeira menstruação, ser novamente abençoada pela lua no futuro é simplesmente visto como parte natural da vida da mulher, e não há nenhuma celebração posterior associada a isso. Não existem tabus ligados ao período menstrual de uma mulher entre os BaMbuti, e isso talvez represente bem a antiga mentalidade não-judaico-cristã.

O fluxo de sangue e seu cessar estão ambos intimamente ligados ao Mistérios Femininos. Menstruação, gravidez, parto e menopausa são aspectos do ciclo vital de todas as mulheres. O sangue, ou sua ausência, assinala naturalmente os estágios de transformação de uma mulher desde a ruptura do hímen ao sangue do parto, ao fim dos sangramentos na menopausa. Em tempos remotos, o modo como uma mulher usava sua guirlanda era um sinal externo de qual estágio de sua vida ela já havia alcançado.

Em Blood Relations - Menstruation and the Origins of Culture, Knight nos conta que os primitivos humanos que habitavam as florestas dormiam na copa das árvores sob o céu noturno. Os ciclos de luz da lua apropriadamente influenciavam os ciclos menstruais das mulheres. A pesquisa de Knight indica que, na maioria das mulheres, o ciclo menstrual começa durante a lua nova e ela ovula por volta da lua cheia. Luisa Francia, em seu livro Dragon Time - Magic and Mystery of Menstruation (Ash Tree, 1991), também afirma que as mulheres vivem e dormem ao ar livre (longe das luzes artificiais) estão sintonizadas a esse ciclo.

Knight apresenta algumas interessantes descobertas compiladas da pesquisa da A. E. Treloar, W Menaker e Gunn, renomados da biologia feminina. Um estudo sobre a duração de 270.000 ciclos de mulheres representando todas as idades da vida reprodutiva revelou o seguinte: a mais alta percentagem simples (28%) das mulheres do estudo menstruaram durante a lua nova. A segunda percentagem mais alta menstruou durante o primeiro quarto (12,6%) e apenas 11,5% menstruou durante a lua cheia. A pesquisa de Knight também indica que 28% das mulheres no estudo mostraram um ciclo menstrual de 29,5 dias de duração. Esse ciclo apresentou-se também como o mais fértil. O estudo ainda trouxe a descoberta de que mulheres heterossexuais que praticavam sexo com regularidade semanal possuíam ciclos mais intimamente ligados aos ciclos da lua do que as mulheres cuja vida sexual era de natureza esporádica ou celibatária. O estudo também indicou que os feromônios masculinos podem estar envolvidos no alinhamento do ciclo menstrual de uma mulher ao chamado ciclo normal que se inicia com a lua nova.

Nos Ensinamentos Misteriosos, vemos que o sangue menstrual era mais do que o indicador do ciclo de fertilidade de uma mulher. A vagina era vista com um portal mágico através do qual a vida surgia de uma misteriosa fonte interna. Na religião matrifocal, era um portal tanto para a regeneração física como para a transformação espiritual. As mulheres estão mais sintonizadas à sua natureza psíquica durante a menstruação. Uma vez que o fluxo de sangue menstrual tende a absorver a energia astral, as mulheres estão mais aptas a curar os outros durante esse período. Doenças refletem-se antes no corpo astral e se expande ao campo de energia da aura. Assim, uma mulher em menstruação pode absorver a energia astral de outra e terrá-la através de seu próprio sangramento físico. Uma vez que o sangue é lançado à terra, a energia é neutralizada e a cura pode ter início na aura da pessoa adoentada.

O sangue menstrual era também utilizado para fertilizar as sementes para plantio, passando a essência da vida a elas. Campos eram por vezes borrifados com uma mistura de água e sangue menstrual para estimular o crescimento. As sementes e plantas absorviam um pouco da energia antes que o solo neutralizasse a carga etérea. Xamãs femininos também transferiam cargas mágicas aos campos cultivados através do sangue menstrual, criados para influenciar a mente grupal da comunidade que se alimentaria da colheita. Durante a Idade Média, as bruxas eram constantemente acusadas de enfeitiçar as plantações.

Outra função do sangue menstrual era a de ungir os mortos. Acreditava-se que isso asseguraria seu renascimento, graças às propriedades vitalizantes do sangue que jorrava do próprio portal da vida. Durante o neolítico e o início da Idade do Bronze na Antiga Europa, a região do Egeu testemunhou a criação de tumbas redondas com pequenas aberturas voltadas para o leste, na direção do sol nascente. Essas tumbas representavam o ventre da deusa, e a abertura era sua vagina. Vasos sagrados eram utilizados para coletar o sangue sagrado para ungir os mortos. Eram vasos sagrados de fertilidade, luz e transformação. Os mortos eram ungidos com sangue menstrual e posicionados no interior das tumbas. A luz do sol nascente simbolizava a renovação e a regeneração, enquanto penetrava na abertura da tumba (o falo solar penetrando na vagina lunar). Posteriormente, essas tumbas terrenas evoluíram na forma dos montes das fadas, remanescentes do Culto aos Mortos.

Em Sacred Pleasures, Riane Eisler relata como os ritos e cerimônias funerários pré-históricos incluíam atos sexuais. Tais atos visavam conectar a tumba à energia da procriação. Símbolos espirais eram constantemente gravados em tumbas neolíticas como símbolos da regeneração. Também simbolizavam a transformação xamânica da consciência que empregava cogumelos alucinógenos. Os cogumelos têm fama de afrodisíacos, e sua semelhança com a genitália masculina ficava certamente evidente aos primitivos europeus. A rapidez com que os cogumelos crescem e desaparecem também contribuíram para sua associação com o falo. Assim, podemos facilmente associar as danças extáticas com os ritos funerais da magia do sangue.

Nos Ensinamentos Misteriosos, a magia de sangue está ligada às fases da Lua. A lua cheia inicia a ovulação e simboliza os poderes de transformação da energia lunar (e, por conseqüência, da energia feminina). Por seu aspecto fértil no ciclo de uma mulher, a lua cheia é o período da mãe. Durante essa fase, é melhor formular e visualizar o que quer que seja desejável na vida de um indivíduo. As imagens mágicas lançam raízes durante essa fase, e o sangue é carregado com quaisquer formas de pensamento que direcionemos a ele. A lua minguante põe em movimento o que foi concebido durante a lua cheia, para que se manifeste. É um período para estabelecer as conexões com o mundo físico que irão auxiliar o fluxo da energia relacionada rumos aos desejos do indivíduo. A lua nova liberta o sangue carregado do caldeirão mágico do ventre. A energia mágica é então gasta e é tempo para reflexão e introspecção. A lua crescente é um período de potencialização, um período para leitura e estudos, preparando o solo fértil do ventre para a semente mágica que será plantada na lua cheia.

 

OS MISTÉRIOS OBSCUROS

Os Mistérios Obscuros tratam da natureza oculta das coisas e da essência secreta tanto das coisas físicas como das espirituais. O mito dos Mistérios Obscuros se reflete em mitos como os de Deméter e Perséfone. Nesse antigo mito, encontramos o tema da Deusa que se encontra com o senhor do Submundo, a princípio resistindo ele e em seguida submetendo-se a seu amor por Ela. Nele, Perséfone representa a semente que desce às trevas subterrânea onde sua energia fértil é despertada. O Submundo representa a misteriosa força que impele o broto para cima, rumo à renovação. Deméter representa a energia que alimenta o crescimento da nova planta. Esse mito greco-romano é típico dos mitos de descidas surgidos pela primeira vez na Mesopotâmia, e que migraram através do Egeu/Mediterrâneo, sendo por fim abraçados pelos celtas.

Os Mistérios Obscuros estão relacionados a diversas criaturas comumente associadas a bruxas e magia de modo geral. O corvo era associado à morte e ao Submundo por sua ligação com o Culto aos Mortos. Acreditava-se que as almas da bruxas escocesas partiam na forma de um corvo durante um transe. O porco era um animal sacrificado a Deméter e também surge em mitos ligados à bruxa grega Circe. Em tempos remotos, acreditava-se que o sangue de porco era o mais puro entre todos os animais e que tinha o poder de purificar a alma, eliminando o ódio e o mal. Era associado ao Culto aos Mortos, e muitos locais de sepultamento incluíam porcos ofertados às deidades do Submundo. Outra criatura associada aos Mistérios Obscuros é a rã. As secreções de certas rãs contêm bufotenina, poderoso psicotrópico alucinógeno. Suas secreções eram utilizadas no preparo de certas poções empregadas na indução a estados de transe e viagens astrais. Certos cogumelos, como claviceps purpúrea e amanita muscaria, também eram empregados com as secreções de rãs. É interessante notar que o claviceps purpúrea se forma nos grãos de centeio e sobrevive na farinha, onde é chamado de cravagem (contendo ergonovina, de onde o LSD foi sintetizado). Aqui encontramos um elo com a utilização de pão e vinho no antigo Sabbat das bruxas.

Por mais desagradável que possa parecer às sensibilidades modernas, os antigos descobriram que as propriedades alucinógenas dos cogumelos ficavam altamente concentradas na urina de quem quer que os consumisse. Por estranho que pareça, esse foi o início dos Ensinamentos Misteriosos da destilação e da fermentação. Através da experimentação xamânica, outros fluidos corporais foram explorados na busca de propriedades ocultas, incluindo o sêmen, as secreções vaginais e o sangue menstrual. O emprego de fluidos corporais com finalidades mágicas é um dos aspectos da bruxaria que foram distorcidos pelos princípios judaico-cristãos, transformados em obscenidades pervertidas.

A ligação dos fluidos e propriedades mágicas também se estendeu ao sumo de plantas, frutas e legumes. Acreditava-se que a Lua exercia influência sobre o crescimento das plantas e também, portanto, sobre sua natureza espiritual ou mágica. Os efeitos de venenos, remédios e intoxicantes eram a princípios atribuídos aos poderes mágicos do espírito que habitava no interior da planta. O processo de transformação de fruta em suco, pela fermentação à intoxicação, foi praticado por xamãs femininas sob os auspícios da Lua. Disso surgiram as imagens de bruxas mexendo poções mágicas em seus caldeirões.

Nos Mistérios Obscuros, a Deusa pode surgir como Aquela que traz a Vida e a Morte, a Criadora e a Destruidora. Ela cria tempestades, chuva e orvalho, os quais podem ser tanto benéficos quanto destrutivos, especialmente para comunidades agrícolas. Do mesmo modo que a Deusa envia a água, ela também envia o fluxo do sangue menstrual. A Lua rege as marés da Terra, bem como as da mulheres. Líquidos sempre foram símbolos da presença mística da Deusa. Seus santuários eram geralmente estabelecidos em grutas onde a água jorrava dentre as pedra. Cerimônias envolvendo a coleta e o derramamento de água são comuns em Seus ritos, onde jarros com bicos fálicos eram utilizados em Seu serviço. No livro The Women’s Mysteries (Harper Colophon Books, 1976), Esther Harding relata as antigas cerimônias de chamar chuva dos cultos matrifocais (que os homens eram proibidos de observar). As mulheres se reuniam nuas num curso d’água e derramavam água nos corpos umas das outras. Geralmente isso envolvia a concentração numa sacerdotisa que representava a Deusa da Lua.

A ligação essencial dos Mistérios da Deusa com as mulheres ocorre sempre através dos fluidos, seja simbólica ou fisicamente. A mente subconsciente está associada ao elemento da água, assim como as emoções em geral, e estas por sua vez estão associadas à natureza feminina (tanto do homem quanto da mulher). Onde os Mistérios Femininos não refletem a psique de algum modo, eles podem ser encontrados em associações com os fluidos corporais das mulheres. Um dos aspectos da Antiga Religião era o de objetos serem abençoados através do contato ou da inserção na vagina de uma mulher nua deitada sobre o altar. Essa antiga prática foi posteriormente dessacralizada por práticas satanistas. No entanto, de um ponto de vista oculto, o que é dessacralização para uma perspectiva pode ser a consagração ou a transformação por outra.

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