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Nas diversas tradições celtas, vamos encontrar o caldeirão em suas várias funções, como propiciador de abundância, imortalidade, regeneração, conhecimento.
Os celtas são integrantes dos povos indo-europeus, originários das grandes estepes da Ásia Central. A partir do período neolítico, vários grupos se deslocaram em levas sucessivas, até ocuparem, no final da Idade do Ferro, todo o oeste europeu, do Rio Reno até o Oceano Atlântico. Nos dias de hoje, o centro da cultura celta se localiza nas ilhas britânicas, desdobrando-se em três ramos: o irlandês, o galês e o bretão. Na tradição galesa, o caldeirão do renascimento é associado com Ceridwen, deusa do grão e da inspiração, a suprema iniciadora e senhora dos mistérios. Nele ela ferve a poção iniciadora, a fonte de todo conhecimento. Em sua função de guardiã da sabedoria, ela pode assumir formas assustadoras, com o propósito de inculcar responsabilidade pelo conhecimento e seus usos.
Relata a lenda que Ceridwen, esposa do nobre Tegid do norte de Gales, tinha uma filha, que era a mulher mais linda do mundo, e um filho terrivelmente feio. Pensando em compensá-lo por sua feiura, Ceridwen usa sua magia para preparar a “poção da inspiração e de toda sabedoria”, no intuito de torná-lo o sábio vidente mais famoso de todos os tempos.
Para tanto, durante o ano ela colhe flores, folhas e ervas, que cozinha em seu caldeirão. Um ano e um dia fervilha a poção no caldeirão mágico de Ceridwen, quando três gotas respingam no dedo do jovem ajudante Gwion, encarregado de manter o fogo aceso. Como reflexo, ele põe o dedo na boca. As três gotas da poção mágica foram suficientes para que diante dele se abrissem passado, presente e futuro, incluindo o conhecimento do perigo que lhe advinha da própria Ceridwen, assim que esta soubesse do ocorrido.
Deixando pra trás o caldeirão fervente, ele fugiu na forma de um coelho, um peixe, um pássaro, mas a deusa-mãe o perseguiu como cachorro, lontra e falcão. Finalmente Gwion se reduz a um grão de trigo, mas é engolido por Ceridwen transformada em galinha preta. Ela engravida e o traz ao mundo como um menino tão bonito, que ela não é capaz de matá-lo. Em vez disto, ela o esconde num saco de couro e o joga ao mar, de onde é pescado pelo nobre Elffin, “o sem sorte”, na véspera de Beltane, de quem recebe o nome de Taliesin.
Mas o de Ceridwen não é o único caldeirão da mitologia celta. Quando chegaram à Irlanda, as tribos da Deusa Dana (os Thuata Dé Danaan), mãe fecunda, geradora divina de todos os deuses irlandeses, trouxeram consigo a religião, a ciência, a profecia, a magia e, principalmente, quatro talismãs, entre eles o caldeirão de Dagda, o Deus Bom. Conhecido por sua abundância, o caldeirão de Dagda incessantemente produz a comida mais requintada e a bebida mais saborosa. Diz-se que ninguém se afasta insatisfeito deste caldeirão inesgotável e benéfico.
Já na tradição bretã, a assimilação do cristianismo trazido pelos romanos transformou o caldeirão no Santo Graal, o cálice capaz de regenerar a terra devastada, desde que o cavalheiro que o encontrasse tivesse um coração puro e fizesse a pergunta apropriada, façanha que coube a Gawain, Cavalheiro da Távola Redonda. A pergunta correta a ser feita era: “A quem deve ser servido este copo?”
Qual seria sua resposta a esta pergunta?
Quais são os ingredientes da poção que você está preparando no seu caldeirão?
fonte do texto: http://www.monikavonkoss.com.br/site/indice-de-artigos/96-o-caldeirao-de-ceridwen
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